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O medo é um conjunto de emoções psíquicas e percepções físicas que surgem em situações peculiares, geralmente temerosas ou diferentes da nossa rotina. Sentimos medo como mecanismo de proteção e ajuste. Com medo, ficamos mais cuidadosos, mais concentrados e nos protegemos melhor de situações com risco real ou potencial.
O medo desenvolveu-se no cérebro humano durante a evolução dos mamíferos, ao se deparar com uma situação limite, o corpo precisa modificar seu estado emocional e cognitivo e promover modificações que capacitam a pessoa a enfrentar ou fugir da situação. Quando estamos com medo sentimos uma espécie de angustia, de desconforto psicológico, de incômodo e vontade de sair de determinada situação, o medo nos leva a reagir de alguma forma. Quando sentimos medo ficamos mais ansiosos, nos concentramos nas variáveis que possam sinalizar uma rota, uma saída ou uma tática de enfrentamento. Chamamos isso de hiperfoco no problema. Nosso corpo fica a mercê da ação da adrenalina e do cortisol, em um estado ativado, com elevação da pressão, aceleração do coração, respiração mais rápida e superficial, tensão muscular, pupilas dilatadas, etc.
O medo é uma ferramenta, mas pode se desregular. Sua função e nos preparar e nos proteger, mas em formas patológicas pode nos limitar e nos paralisar. Quando manifestamos o medo é fundamental identificar o alvo, o contexto, a proporção da resposta. Ter medo reacional e proporcional é sinal de saúde, mas o sistema pode se desregular, gerando as temidas fobias, assunto da nossa pauta de hoje.
A FOBIA
A fobia é um desarranjo nos sensores de percepção e expressão do medo. Trata-se de um dos principais tipos de ansiedade. Quando a pessoa tem fobia de algo ela dispara o alarme de medo de forma rápida e desmedida, limitando o enfrentamento e levando, em alguns casos a um evitação crônica, com prejuízos variados na qualidade de vida.
A ansiedade patológica pode se manifestar como TAG (transtorno de ansiedade generalizada), síndrome do estrese pós-traumático (SEPT), transtorno do Pânico, transtorno obsessivos-compulsivos (TOC) e fobia específicas. Acredita-se que cerca de 12% a 15% das pessoas tenha algum tipo de fobia. As mulheres são acometidas duas vezes mais que os homens.
O diagnostico é feito pela história clínica e baseia-se em um MEDO PATOLÓGICO direcionado e desproporcional ao seu desencadeante. Além disso é preciso que o transtorno esteja presente há mais de 6 meses e que a fobia prejudique a qualidade de vida do seu portador, levando-o a perda de rendimento ou oportunidades. Não existem exames que ajudem nesse diagnóstico, sendo ele pautado na história clínica do paciente e seus amigos e familiares.
Nas fobias os sintomas de ansiedade surgem quando a pessoa se depara com determinado objeto ou situação, levando-a a apresentar sintomas de medo excessivo e sintomas típicos de ansiedade. Em casos mais graves, o paciente pode disparar a cadeia de sintomas só de ver um desenho de sua fobia, ou mesmo ao apenas imaginá-la. A resposta pode variar de uma ansiedade moderada até ataques típicos de pânico diante de determinada ocorrência.
Existem dezenas de tipos de fobia já descritas pelo mundo, didaticamente separamos em 3 grupos:
- Fobias Específicas: são fobias direcionadas, movidas a animais, situações determinadas, eventos, fluidos corporais, etc. Existem dezenas de fobias específicas, algumas ocorrem mais em crianças, outras começam mais tardiamente.
- Fobia Social: sintomas de ansiedade e receio de enfrentamento de situação sociais (vide Fobia Social adiante)
- Agorafobia: medo excessivo de expor-se em ambientes abertos ou tumultuados, com poucas rotas de fuga. Típico de ansiosos, principalmente síndrome do pânico. (vide adiante)
A causa das Fobias
Não se sabe a causa exata das fobias específicas, mas algumas teorias são bastante consistentes. Atualmente acredita-se em uma genética favorável associada a determinantes ambientais, como traumas. Em alguns casos a genética é mais forte, levando o paciente a fobias múltiplas e eventualmente sem traumas claros de vida. Em outros o determinante traumático é mais forte, sendo reconhecível na história. Outra possibilidade é o trauma associativo, quando uma vivência desagradável é atrelada na memória afetiva a um fator, situação ou objeto que esteve associado na vivência inicial. Outra opção é que o trauma seja indireto, ou seja, que a pessoa não tenha vivenciado o evento traumático em si, mas conhecido pessoas que viveram, ou aprendido sobre seu medo por informações, lendo artigos, assistindo matérias, sendo essa forma bastante comum em um mundo cada vez mais globalizado e com uma carga intensa de informação. Seja como for é fundamental buscar os determinantes para facilitar o tratamento, seja medicamentoso, seja psicoterápico, seja ambos.
A Fobia Social
A fobia social é uma fobia bastante comum e peculiar, acredita-se que até 8 a 10 % da população adulta tenha algum grau de fobia social. Nesse tipo peculiar a fobia é manifesta em diversos contextos, podendo atrapalhar muito a performance de alguém. Estuda-se essa fobia em separado, pois é muito mais ABRANGENTE que as fobias específicas. Aqui a pessoa pode ter receio e ansiedade por executar reuniões, fazer apresentações, falar em um grupo de amigos, iniciar conversas afetivas, entre outras. Alguns não conseguem comer em público, frequentar banheiros públicos, falar ao telefone, atender clientes etc. As pessoas com fobia social se sentem muito tensas na interação pessoal, sentem-se constantemente julgadas e temem a crítica (mesmo que velada) do outro. Os fóbicos sociais sentem que estão sendo analisados, que sua performance está em constante avaliação e sentem-se incapazes de controlas sua ansiedade em situações cotidianas. Com o tempo ocorre isolamento, frustração crônica com perdas de oportunidades e o quadro pode evoluir para depressão, abuso de substâncias ou outras formas graves de ansiedade.
Essa forma abrangente, frequente e avassaladora de ansiedade é ainda muito sub-diagnosticada e sub-tratada, muitos passam por pessoas antissociais, excêntricas, ou apenas tímidas, tendo vergonha e receio inclusive de buscar ajuda médica ou psicológica.
Agorafobia
Agorafobia é um tipo também peculiar a abrangente de fobia. Ela surge quando a pessoa tem medo de passar mal, medo de perder o controle, como em uma crise de pânico, por exemplo. Esse medo faz com que o paciente evite local abertos, tumultuados ou com poucas alternativas de escapada, no caso de uma crise de ansiedade. Trata-se de um fenômeno que limita muito a vida de pessoas ansiosas, estima-se que ela ocorre de 50 a 70 % dos pacientes com transtorno de pânico. A agorafobia leva a muita esquiva e permeia muitas ações do paciente, deixando-o incapacitado mesmo fora da crise de ansiedade. Trata-se de uma fobia de difícil tratamento, que pode se manter mesmo após controladas as crises fortes de ansiedade.
TRATAMENTO E EVOLUÇÃO
A verdade é que as fobias são transtorno extremamente frequentes na população geral (cerca de 12% a 15% da população. Podem começar em qualquer idade, inclusive na infância, sendo mais frequente seu aparecimento na adolescência (principalmente a fobia social). Uma pessoa pode ter uma ou mais fobias, sendo também muito comum que pessoas fóbicas tenham outros transtornos de ansiedade também, como TAG e síndrome do pânico.
As fobias não costumam melhorar espontaneamente, o mais frequentes é que piorem sem tratamento e levem a cada vez mais limitação. Na verdade, o grau de perda de qualidade de vida dependerá diretamente do tipo de FOBIA e do tipo de vida que o paciente leva. Por exemplo, ter fobia de borboleta pode ter um impacto na qualidade variável a depender da profissão, do local em que a pessoa vive, etc. Se alguém tem fobia de elevador, por exemplo, e mora em uma cidade pequena e térrea do interior, irá sofrer menos que alguém com a mesma fobia que more em uma metrópole repleta de prédios. Assim por diante. O tratamento será fundamental naqueles casos aonde a fobias tiver impacto relevante na qualidade de vida de alguém.
A cronificação de uma fobia ocorre por um reforço cerebral, um comportamento condicionado. Acredita-se que a ESTRUTURA CEREBRAL envolvida com o medo seja a AMIGDALA, uma região dentro do lobo temporal. Ela tem um limiar de ATIVIDADE, a partir da qual dispara. Existem medos inatos e medos aprendidos. Por exemplo: temos medo de escuro, da morte, da solidão e de altura, são medos inerentes a espécie humana, podendo ser mais forte ou mais leve. Agora, podemos aprender a ter medo de veículos, animais específicos, agulha, etc. Nossos medos são decididos de forma bem pessoal. Quando nos sentimos mal diante de algo nossa reação inicial é evita-la, ao evita-la, não nos sentimos mal, recebendo um reforço positivo da evitação. Trata-se de um condicionamento.
O diagnostico é feito com 6 meses do transtorno e baseado no impacto direto na qualidade de vida. O tratamento exige 3 aspectos: mudanças de estilo de vida, psicoterapia de enfrentamento e medicamentos. Cada caso terá seu tratamento personalizado, sendo o item mais importante a psicoterapia direcionada ao enfrentamento (principalmente a terapia cognitivo-comportamental).
Recomenda-se sempre o controle geral da ansiedade como um todo com atividade física aeróbica, boas noites de sono e alimentação menos estimulante. O medicamento deve ser usado quando o paciente apresenta outros transtornos de ansiedade, depressão ou formas difusão e incapacitantes de fobia, como fobias sociais e agorafobia intensa. A terapia de enfrentamento deverá estabelecer níveis de enfrentamento do mais leve para o mais forte, criando uma lista hierárquica de enfrentamento. O terapeuta vai ajudando o paciente a perceber sinais de ansiedade e mudar o padrão de enfrentamento.
Durante a terapia o paciente aprender a modificar seu pensamento, algumas dicas são:
- Enfrentar seu medo aos poucos, de forma lenta e progressiva
- Estudar sobre os riscos reais envolvidos na sua fobia.
- Atrelar bom humor à experiência
- Desqualificar o contexto (não supervalorizar)
- Criar metas curtas e valorizar pequenos ganhos
- Aprender a respirar e tirar o foco da ansiedade