Dores de cabeça
setembro 17, 2013Memória
setembro 29, 20131 ) O que é a Síndrome de Asperger e como diagnosticá-la?
R. A Síndrome de Asperger está dentro do espectro do Autismo, mais especificamente no polo de alto funcionamento. O diagnóstico é totalmente clínico, feito pelo neuropediatra, neurologista ou pelo Psiquiatra. Os sintomas principais geralmente surgem antes dos 3 anos de idade e são: restrição social, dificuldade em trocas afetivas, certa intolerância a ambientes muito agitados, apego a rotinas, restrição da área de interesse, alterações sutis de linguagem, como dificuldade em compreender ironias e manter diálogos. Agora, diferente do autismo clássico (forma mais comum de autismo), o Asperger tem um domínio muito melhor da linguagem (principalmente em monólogos), inteligência normal ou até acima da média e pode apresentar precocidade e ser um prodígio em determinada área do conhecimento. Uma característica de sua inteligência aliada a restrição de área de interesse, o que os torna, eventualmente, um especialista em algo.
2 ) Existe algum cuidado que deva ser tomado pelos pais ao terem um filho diagnosticado com a síndrome?
R. Diversos cuidados devem ser tomados. Primeiramente, é fundamental trabalhar os talentos do filho, assim como suas dificuldades. O diagnóstico deve ser o mais precoce possível a fim de delinear uma intervenção em prol da melhor socialização e da funcionalidade. Cada fase da infância, adolescência e vida adulta trará uma série de desafios e serem vencidos pelo paciente, a equipe de saúde e a família. A cada dia, o conhecimento individualizado do paciente em si (já que cada pessoa com Asperger é diferente de outra) ajudará a personalizar o tratamento e os ajustes ambientais e familiares necessários para reduzir os conflitos e gerar uma integração mais harmônica, produtiva e feliz.
3 ) Por que a Síndrome de Asperger é conhecida como “fábrica de gênios”?
R. A Síndrome de Asperger é uma dificuldade do “cérebro social” com marcada dificuldade em perceber e interagir com o outro de forma tradicional, aliada à manutenção da capacidade de linguagem, mesmo que com pequenas peculiaridades e, eventualmente, um talento cerebral diferenciado para uma ou várias funções cognitivas. Não raro eles possuem talentos precoces e fantásticos em áreas como: memória (hipermnésia), cálculos, desenho, música, determinado jogo ou esporte, etc. Esse talento deve ser, no entanto, lapidado para gerar feitos proporcionais ao seu potencial.
4 ) Quais são as características mais comuns de quem possui a síndrome?
R. A síndrome ocorre dentre a primeira infância, é muito mais comum em meninos e é marcada por apego a rotinas, restrição do espectro de interesse, fala e brincadeiras concretas, dificuldade de trocas afetivas, maior facilidade em falar “para” alguém (monólogo), do que “com” alguém (diálogo). O clássico são crianças que desenvolvem um domínio precoce e diferente da linguagem, falam como se fossem pequenos adultos, ou pequenos professores, apresentam uma tendência a falar sempre do mesmo assunto e puxam a conversa para sua área de interesse (pouca flexibilidade), têm dificuldade para compreender nuances de linguagem como ironias, sarcasmos, metáforas, etc. (tendência a entender “ao pé da letra”), olham pouco nos olhos e não gostam tanto de contato físico e trocas afetivas na forma clássica. Sentem-se incomodas quando fora de sua rotina e em ambientes menos previsíveis. Podem ter muita facilidade com desenhos, música, números, alfabetização espontânea e precoce, etc.
5 ) Como diferenciar a Síndrome de Asperger do Autismo?
R. Atualmente, entendemos o Asperger como dentro de um grande espectro do Autismo. Mesmo sendo diferente do autismo clássico, por não presentar atraso intelectual e ter um bom domínio da linguagem, eles se aproximam na franca dificuldade de interação interpessoal, na intolerância a ambientes tumultuados e no apego às rotinas com restrição da área de interesse. Trata-se possivelmente de intensidades diferentes de um mesmo processo, por isso o conceito de espectro, tendo de um lado o alto funcionamento, de outro o franco comprometimento da forma clássica, e no meio, infinitas possibilidades clínicas de formas intermediárias.
6 ) Quais os acompanhamentos que devem ser feitos e até que ponto da vida esse acompanhamento é necessário?
R. Trata-se de uma síndrome muito heterogenia, cada paciente é de um jeito e estará envolto em um contexto familiar, escolar e social específico. Por isso todo o tratamento deve ser individualizado, deve ser personalizado para a demanda daquele indivíduo e daquela fase. Pode ser necessário medicamentos em algum momento, visando o controle de determinado sintoma disfuncional, terapia ocupacional, fisioterapia, métodos comportamentais, psicólogo, etc. Tudo dependerá da funcionalidade vivenciada no caso específico. Muitas pessoas com síndrome de Asperger não recebem sequer diagnóstico durante a vida, passam como excêntricos, pessoas um pouco diferentes, as vezes até com destaque importante em algum ramo de atuação. Outros, recebem o diagnósticos mas não precisam de grandes intervenções clínicas ou psíquicas, pois desenvolveram técnicas de convívio e minimização dos comportamentos disfuncionais espontaneamente. Agora, tem aqueles que necessitaram de terapias específicas, esforço familiar, pessoal e de toda equipe pedagógica a fim de alcançar um desenvolvimento que garanta sua independência e sua integração com a sociedade.
7 ) A criança diagnosticada pode frequentar uma escola de ensino normal ou é aconselhável que os pais procurem uma escola com ensino especializado?
R. Depende do caso. De forma geral preferimos que a pessoa com Asperger frequente a escola regular, mas que tenha uma atenção personalizada para desenvolver adequadamente seus talentos específicos e trabalhar suas dificuldades sociais. Jogar um Asperger dentro de um sistema relativamente cruel de uma escola regular sem assistência é tão ou mais prejudicial do que mantê-lo fora dela. É fundamental que ocorram algumas adaptações, por exemplo: preferir salas menores e organizadas, professores capacitados a lidar com crianças dentro do espectro autista, ajustes pedagógicos de reforço e motivação para áreas fora da zona de interesse, medidas preventivas educativas contra o bullyng e o preconceito, etc. De modo geral, o convívio é possível e é benéfico para o aluno e para a escola, portanto, deve ser estimulado, respeitando alguns ajustes e limitações.
8) Quais as dificuldades mais comuns de desenvolvimento da criança com a Síndrome de Asperger?
R. A dificuldade de interação pessoal é o problema mais difícil no Asperger. Pode haver muita dificuldade de aceitação em grupos, isolamento social e frustação. A pessoa com Asperger pode ser vista pelos outros como alguém mimado, arrogante, sincero demais, excêntrico ou “nerd”, com senso de humor estranho, etc. Isso pois, como dissemos anteriormente, o portador da síndrome não tolera fuga de rotinas, tem dificuldade em diálogos, apresenta restrição de assuntos de interesse, pode ter dificuldade em compreender metáforas e ironias. Por tudo isso é fundamental trabalhar a linguagem, a interação pessoal e o controle dos comportamentos disfuncionais. Ao mesmo tempo precisamos tratar a escola, o ambiente de trabalho, a família e toda a sociedade de modo a reduzir o preconceito e criar mais e mais estratégias de convívio harmonioso entre todos.
9 ) Que conselhos você daria para uma família que tem um filho com essa síndrome, e o que deve ser feito para garantir o pleno desenvolvimento dessa criança?
R. Seu filho é único e diferente da média. Ele apresenta dificuldades em determinadas áreas e facilidades incríveis em outras. O primeiro passo é procurar entende-lo, aproxime-se do mundo dele e tente ver e sentir como ele sente. Aceite-o. Busque informação e profissionais de qualidade. Acredite no poder de vocês para superar os comportamentos menos funcionais e o ajude a ampliar aquilo que ele tem de melhor. Haverá momentos bons e momentos ruins, com o tempo e a dedicação de todos ele ficará mais funcional a cada ano. Agora, ele sempre será único e diferente da média, pois o que o torna diferente está na sua essência. Não busque sua cura, busque sua felicidade.
Fonte – Leandro Roberto Teles – Médico Neurologista – Membro da Acedemia Brasileira de Neurologia – CRM 124.984 – Formado e especializado pela USP – www.leandroteles.com.br