Mitos e verdades sobre Epilepsia
novembro 16, 2012Check-up Neurológico: Quando e por quê fazer?
novembro 16, 2012A relação entre o cérebro Humano e a música é extremamente intensa e complexa. O ser humano é um dos poucos seres capazes de converter melodia em emoções pessoais e ritmo em movimento. Nosso cérebro é preparado e ávido por experiências musicais. É muito difícil encontrar alguém que absolutamente não goste de nenhum estilo musical.
Neste contexto, de tempos em tempos, surge um grupo específico de músicas que conquistam uma parcela extremamente ampla da população, são os conhecidos Hits (ou músicas de massa, que transcendem os limites do gosto musical, são cantadas por todas as classes sociais, idades e pessoas de várias nacionalidades). Seu mérito geralmente não está em uma letra brilhante, ou em uma harmonia complexa, nem mesmo no refinamento de sua execução pelos músicos e intérpretes. Seu destaque é uma somatória de características que facilitam seu armazenamento e sua evocação pelo cérebro humano.
A música popular é geralmente composta por letra e melodia. No caso do Hit o foco é a melodia. A letra é geralmente bastante simples, com linguagem contemporânea, repetitiva, comporta neologismos, gírias e conteúdo geralmente otimista (por vezes malicioso). A letra fica em segundo plano.
O ritmo de um Hit é geralmente alegre e tem um poder peculiar de provocar nas pessoas vontade de dançar. A harmonia é simples, repetitiva e de fácil execução.
Como um Hit envolve nosso Cérebro
A música entra no cérebro humano pela via auditiva, os impulsos mecânicos são transformados em impulsos elétricos pelo aparelho auditivo. O cérebro recebe os impulsos elétricos em uma região conhecida como Córtex auditivo (fica um pouco acima e um pouco atrás da orelha).
Da região auditiva a música se espalha rapidamente por diversas regiões cerebrais. A música é conduzida a área da linguagem, aonde a mensagem é decodificada. O Hemisfério Esquerdo fica responsável principalmente pela decodificação literal da letra, o direito decodifica a melodia e a subjetividade da letra em questão. Surgem informações visuais após essa decodificação (vê-se o enredo da música, o rosto do artista, a coreografia, instrumentos, etc). O processo segue e emoções afloram em segundos… prazer, tristeza, saudades, enfim… isso dependerá da música e da vivência do ouvinte. Com o envolvimento emocional é ativado o sistema de recompensa cerebral, ocorre liberação de dopamina e ocorre sensação de prazer (esse sistema também é ativado durante atividade sexual, consumo de chocolate e uso de drogas, por exemplo).
Após esse contato inicial a música poderá ser memorizada a depender da relevância que o indivíduo deu a ela. Nesse ponto a música de massa (o Hit) leva a vantagem de sua simplicidade e do bombardeiro de exposição. O hit toca muitas vezes no rádio, expondo mesmo os menos adeptos ao estilo. Toca no trabalho, na rua, nos estabelecimentos comerciais… todos são apresentados direta ou indiretamente à melodia.
O cérebro memoriza e executa facilmente um Hit !! O limiar de evocação é bem mais baixo que uma música comum… por vezes surge na cabeça fora de um contexto apropriado e fora do controle voluntário da pessoa. Quando a gente percebe já estamos cantarolando a música… mesmo sem a nossa aprovação consciente.
Mais do que a evocação fácil surge uma espécie de ciclo vicioso mental. A execução de parte da música (geralmente o refrão) assume uma forma reverberante e fica rodando como uma vitrola quebrada dentro da nossa cabeça. Ao final do trecho marcante fica uma “vontade” de repetí-lo “só mais uma vez….”, e outra vez… e de novo. Isso atrapalha a concentração, gera situações embaraçosas sociais (principalmente quando damos vazão a vontade de se mover ao som do Hit, cantá-lo ou mesmo assovia-lo em contextos inapropriados). Diz-se que a música “grudou” no cérebro.
Todo mundo tem certa susceptibilidade a esse fenômeno. Alguns mais do que outros. Por exemplo = mulheres, músicos e pessoas mais ansiosas tendem a ser alvos mais fáceis para o Hit.
O cenário do sucesso está agora traçado. A música toca milhares de vezes no rádio e o nosso cérebro faz o favor de reproduzi-la mentalmente milhares e milhares de vezes… como uma rádio interna implantada que toca sempre a mesma música.
A superexposição acaba por ajudar na extinção do Hit. As pessoas enjoam, acabam se irritando com a exposição externa e interna fora de contexto e com o tempo (geralmente meses) o Hit perde sua força. Novas músicas são lançadas e o ciclo recomeça.
Como tudo na vida há um lado positivo e outro negativo em tudo isso. A musicalização em massa leva ritmo, alegria e felicidade a muitas pessoas. No contexto certo é um convite à dança e às atividades sociais, o que também é muito saudável. O problema é que nem sempre a mensagem contida nas letras são pertinentes ao amplo público alvo envolvido na música de massa. A melodia que gruda no cérebro carrega (como um vetor) uma letra (inicialmente em segundo plano) que pode conter informações inadequadas a determinadas idades, grupos e transmitir conceitos sociais inadequados. Há de se ter bom censo na sua composição.
Como se livrar de uma música que “grudou” na cabeça ?
Infelizmente não existe uma técnica 100% eficaz para nos livrar daquelas músicas que, contra nossa vontade, martelam nosso cérebro no dia-a-dia. Duas dicas podem ajudar em alguns momentos:
- Execute a vontade do cérebro.
Sempre que possível cante (mesmo que apenas mentalmente) a música toda. A tensão gerada por a repetição de parte de um refrão pode ser aliviada pela execução da música inteira. Procure recordar as outras estrofes, ou mesmo olhe na internet e satisfaça de uma vez a vontade do seu cérebro. Algumas vezes assoviar a música ou mesmo dança-la poder ter efeito semelhante na resolução.
- Competição de estímulos
Inicie outra atividade, mude de ambiente, converse com alguém. Enfim, saia da situação que gerou o início da reverberação. Exponha-se a outra melodia com características semelhantes ao Hit inicial mas menos irritante para você (um mal menor).