Depressão
setembro 12, 2018O sono e seus distúrbios
setembro 13, 2018A DISTIMIA é uma patologia muito comum e ainda bastante sub-diagnosticada no BRASIL e no mundo. Estima-se que até 5% da população seja distímica, o que soma cerca de 8 a 10 milhões de brasileiros. Existe um predomínio no sexo feminino (cerca de 2 mulheres para cada homem acometido), o quadro pode se instalar em qualquer idade, mas existe uma predileção por início na adolescência ou vida adulta jovem.
O termo tem sido atualmente revisto, sendo mais recentemente chamado de TRANSTORNO DEPRESSIVO PERSISTENTE (TDP), uma vez que se relaciona diretamente à DEPRESSÃO, tanto na manifestação clínica, como no impacto na qualidade de vida, sendo hoje vista como uma variante depressiva.
Trata-se de uma doença CRÔNICA e arrastada, de instalação insidiosa (não abrupta) e curso superior há 2 anos (em adultos). Seus sintomas são bastante parecidos com o da DEPRESSÃO CLÁSSICA, mas são um pouco mais leves e menos incapacitantes, o que dificulta o diagnóstico e a reduz a busca por ajuda.
A pessoa com DISTIMIA apresenta um mau humor CRÔNICO e patológico, um NEGATIVISMO constante. O portador apresenta uma IRRITABILIDADE excessiva e é reconhecida por ser meio rabugentas e “reclamonas”. Os portadores de DISTIMIA apresentam dificuldade de percepção de prazer (anedonia), mesmo para atividades tida como prazerosas ou que anteriormente geravam alegria, são muito AUTO-CRÍTICOS e apresentam BAIXA AUTOESTIMA, gerando excesso de frustração.
Diferente da depressão clássica (episódica), que geralmente surge em EPISÓDIOS de instalação mais incisiva e com sintomas proeminentes de TRISTEZA e angústia, na DISTIMIA temos uma instalação mais suave e sintomas menos grosseiros. Por isso, muita gente confunde a distimia com traços de personalidade e carácter. Antigamente, o transtorno era chamado de personalidade depressiva, esse conceito tem mudado desde a década de 70 para cá, quando cada vez mais o transtorno tem ganhado sedimentação e seus impactos tem sido cada vez mais destacados na literatura médica. O humor depressivo do paciente com distimia é visto na maioria dos dias e durante boa parte do dia, mostrando sua capilaridade na rotina do paciente e a falta de alvo ambiental para os sintomas disfuncionais.
O portador de DISTIMIA pode sentir uma espécie de vazio, de buraco interior, como se sempre lhe faltasse algo. A despeito de cobrar de si e dos outros (perfeccionismo), o paciente geralmente apresente pouco entusiasmo e até uma certa fadiga física e mental que amarra suas realizações, sendo geralmente um profissional mediano. É evidente o viés melancólico, pessimista e desesperançoso dos portadores.
Como dito acima os sintomas de HUMOR DEPRESSIVO crônicos tem duração superior a 2 anos, em crianças e adolescentes, o tempo exigido para tal diagnóstico é de 1 ano. Além dos sintomas psíquicos supracitados, o distímico pode apresentar uma série de sintomas físicos e intelectuais, formando um contexto de sintomas e sinais e ajudam do diagnostico e que tornam o transtorno ainda mais desafiador.
Além dos sintomas PSIQUICOS – que são o centro da distimia – existem também sintomas físicos, sentidos no corpo. Tanto a depressão como a distimia alteram a forma que o corpo funciona:
1- Alterações de sono: a distimia pode causas sonolência diurna, sensação de sono não reparador, dificuldade em iniciar e manter o sono. Alguns pacientes podem apresentar sono excessivo a noite, com dificuldade em iniciar o dia (hipersonia).
2- Alterações do apetite: o maior frequente é a perda de apetite, com falta de prazer na alimentação e eventual perda de peso. No entanto, alguns pacientes podem apresentar aumento de apetite e piores escolhas alimentares, com mais carboidratos e gorduras, levando a ganho de peso e tendência à obesidade.
3- Alterações sexuais: é frequente a queixa de anorgasmia (falta de orgasmo) e baixa libido (baixo interesse sexual).
4- Fadiga: a distimia pode se acompanhar de cansaço físico e mental, com sensação de corpo pesado e baixa energia.
5- Dores no corpo: dores de cabeça e coluna são frequentes, geralmente fruto de tensão muscular excessiva.
6- Disfunção intestinal: queixas de oscilações intestinais podem acontecer, com obstipação, eventuais diarreias e sensação de dificuldade de digestão.
7- Queixas de memória: o rendimento intelectual pode ficar alterado pela distimia, com redução da atenção, memória e criatividade, o cérebro funciona com rendimento cognitivo abaixo do esperado. Em idosos esse sintoma pode ser mais exuberante, lembrando uma forma mais leve de demência (declínio cognitivo). O quadro é geralmente reversível com a melhorar da distimia.
OUTROS: pode ocorrer queda de cabelo, problemas de pele, alteração de pressão, opressão no peito, etc.
Perceba como a distimia altera o funcionamento de todo o corpo, tanto emocionalmente, como intelectualmente e na performance física.
Muitos acabam buscando outros especialistas e realizam investigações e tratamentos para outras doenças clínicas.
O CÉREBRO COM DISTIMIA
O cérebro da pessoa com distimia funciona de forma diferente. Apresenta lentificação, dificuldade da extração de prazer, baixo engajamento e performance em algumas atividades. Portadores de distimia geralmente apresenta um padrão mental mais inflexível, mais perfeccionista e com baixa resistência à frustração. Acredita-se que diversos NEUROTRANSMISSORES funcionam abaixo do esperado em paciente com DEPRESSÃO ou DISTIMIA, sendo os principais:
SEROTONINA: essa é a molécula mais estudada e associada tanto a transtorno depressivos, como transtornos de ansiedade. A serotonina é responsável pela nossa sensação de prazer e bem-estar, para a impressão de que está tudo OK e seguindo um curso de normalidade. Com baixa de serotonina no cérebro, ficamos mais apreensivos e negativos, apresentamos tensão e sensação de algo ruim, muitas vezes em desacordo ou de forma desproporcional ao nosso contexto atual de vida.
NORADRENALINA: Molécula importante para nossa disposição, energia e sensação de um corpo “ligado” e “ativo”. Na distimia e em quadros depressivos, a fadiga, a apatia, com dificuldade de reação e franca indisposição física e mental, podem decorrer, em parte, pelo mal funcionamentos dessas visas.
DOPAMINA: aqui uma molécula também muito importante para o funcionamento normal do cérebro humano. A Dopamina está profundamente ligada ao mecanismo de recompensa cerebral. Quando realizamos algo bom para nós como indivíduos ou como espécie, recebemos em DOPAMINA. Quando essa via funciona mal, sentimos que as coisas estão dando muito menos prazer que antes, um sintoma chamado de ANEDINIA, um uma espécie de refratariedade ao prazer. Somos movidos por prazer, quando ele está escasso, temos um rendimento pior, ficamos rabugentos, resistentes às atividades, mau humorados, não achamos muita graça das coisas e nos tornamos companhias ruins.
Exames experimentais mostram um cérebro menos ativo, mais empobrecido, aquém de sua capacidade funcional. O tratamento medicamentoso é direcionado a esse estado cerebral alternativo importo pelas doenças, que tem seus determinantes genéticos, ambientais, hormonais, de modo e estilo de vida, de experiencias anteriores.
DOENÇAS ASSOCIADAS
A distimia aumenta o risco de uma série outras doenças, clínicas e psiquiátricas. O primeiro e maior risco é o risco de cair em um episódio agudo e superposto de depressão. Chamamos esses casos de dupla depressão, estima-se que de 70 a 90% dos portadores de distimia possam entrar em depressão clássica em 5 anos. Isso significa que a distimia não é apenas um traço de personalidade, mas sim um quadro depressivo mais leve e arrastado que t coloca a meio caminho de entrar em depressão mais profunda. Outro risco é o abuso de substâncias (álcool / drogas e tranquilizantes), muitos pacientes acabam compulsivos, envoltos em comportamentos capazes de aliviar pelo menos transitoriamente seu sofrimento. Além disso existe um risco maior de obesidade, transtorno de ansiedade, como TAG e pânico e mesmo o risco de suicídio (cerca de 15 % dos portados de distimia chega a pensar em suicídio durante a evolução).
CAUSAS DA DISTIMIA
A distimia apresenta um conjunto complexo de causas, ainda não completamente conhecidas. Acredita-se atualmente em uma mistura entre fatores genéticos (biológicos, intrínsecos da pessoa e herdado em parte da família) com fatores externos, ambientais, de contexto e história de vida.
Sabe-se que ter um familiar de primeiro grau com distimia, eleva o risco de ocorrência, sendo esse risco tão maior quanto mais familiares apresentarem o problema. Também percebe-se claramente o risco genético ao avaliar a taxa de recorrência entre gêmeos idênticos e não idênticos (fraternos), sendo essa taxa substancialmente maior nos primeiros.
Do ponto de vista ambiental o tipo de criação, os eventos estressantes crônicos e agudos, o ritmo de vida e mesmo o perfil hormonal, podem aumentar o risco de distimia, levando a expressão ou contensão do potencial genético. Sendo assim entendemos a Distimia hoje como um mosaico de fatores de risco que se expressão quando em associação.
Sabe-se que a distimia é mais frequente em adultos jovens do sexo feminino, com histórico familiar e ocorrências estressantes de vida. Mas claro que a doença pode se expressar em outros contextos menor frequentes, como na infância, no sexo masculino e mesmo iniciando na terceira idade.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é TOTALMENTE clínico e depende da história do paciente e do exame físico feito pelo médico (que geralmente está dentro da normalidade na DISTIMIA). Exames de sangue e imagem do cérebro não demostram o problema.
Por vezes, o médico pede exames para investigar outras doenças que podem MIMITIZAR a DISTIMIA, como o exame para ANEMIA e disfunção da TIREÓIDE. Mas, na grande maioria dos casos de distimia a investigação é completamente negativa e o diagnóstico é pautado na opinião do médico que acompanha o caso.
Mesmo pautado em experiência e alguma subjetividade, alguns pontos são fundamentais para um diagnóstico preciso:
- É fundamental conhecer os sintomas emocionais, físicos e intelectuais expressos pelo paciente.
- É preciso estabelecer a duração desses sintomas, na distimia o diagnóstico é firmado com 2 anos de evolução clínica.
- O médico precisa identificar que os sintomas ocorrem em boa parte do dia, na maioria dos dias, sendo mais infrequente a ausência de sintomas, do que sua presença.
- Afastar outras doenças. É muito importante ter clareza que os sintomas não decorrem de problemas hormonais, estilo muito alternativo de vida, problemas com substâncias, outros transtornos psiquiátricos que justifiquem melhor os sintomas, etc.
- Por fim é preciso apontar que os sintomas trazem prejuízo à qualidade de vida de alguém. Não basta uma opinião vaga de terceiros, é preciso estabelecer que a alteração de humor implica em sofrimento e perda de rendimento, social, profissional, escolar, ou na própria concepção de equilíbrio biopsicossocial.