Alzheimer – Perguntas e Respostas
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setembro 4, 2015Queixas de dificuldade de aprendizado são extremamente comuns nos dias de hoje. Existem inúmeras causas para isso, médicas e não-médicas, e essas causas ainda podem estar associadas entre si, dificultando ainda mais o diagnóstico e o tratamento adequados.
A primeira distinção importante é com relação a esses dois grupos distintos: problemas de rendimento escolar devido a problemas de contexto, método, ensino, etc., e problemas escolares devidos a questões neurológicas, tais como: dislexia, transtorno do déficit de atenção, autismo, superdotação, discalculias, etc.
Existe ainda um terceiro grupo que compõe dificuldades escolares por problemas emocionais, por vezes intensos como depressão, ansiedade, transtorno afetivo bipolar, transtorno opositor, etc.
Como dito acima, é muito comum a associação de fatores de ensino / neurológicos e emocionais em uma mesma pessoa. Negligenciar um dos aspectos é privar a pessoa de uma reabilitação adequada.
Dificuldade de aprendizado |
– de ensino (extrínsecos) |
– emocionais (intrínsecos) |
– neurológica (intrínsecos) |
Problemas neurológicos
Aqui está uma das maiores preocupações de pais e familiares quando identificam uma dificuldade de aprendizado nos filhos. Será que meu filho tem alguma dificuldade neurológica?
Existe realmente uma gama grande de transtornos neurológicos que se expressam como dificuldade de aprendizado, aliado ou não a outros sintomas relacionados a questões motores, sensoriais, de interação, etc.
Gosto de dividir (por questões didáticas) em 2 grandes grupos de patologias:
1- Doenças graves e estruturais com redução do QI.
Marcadas por dificuldades intelectuais evidentes, como lesões cerebrais, anóxia, alguns tipos graves de autismo, síndromes genéticas graves, etc. Nesse caso, o potencial mental de aprendizado é reduzido e o rendimento fica comprometido.
2- Doenças neurológicas funcionais, com dificuldade pontual em aspectos da cognição. (Vamos nos ater adiante a esse grupo)
Aqui temos um grupo muito importante de transtornos que podem culminar em dificuldades de aprendizado: TDAH, dislexia, autismo de alto funcionamento, etc.
Principais transtornos neurológicos funcionais |
– TDAH |
– dislexia |
– autismo |
– Superdotação |
– Outros (sensoriais/processamento/discalculias /etc) |
Esse segundo grupo muitas vezes tem seu diagnóstico atrasado devido a sutileza dos sintomas ou devido a desconhecimento por parte de pais, professores, pedagogas e mesmo por parte dos profissionais de saúde envolvidos com a criança.
Nesses casos existem um intenso degrau entre o potencial intelectual e as realizações, gerando frustrações, baixa autoestima e muito preconceito por parte de sociedade. Esse contexto abre portas para o aparecimento de depressão, desânimo, desapego à escola e aos estudos, irritabilidade, esquiva, etc., levando a um ciclo vicioso que amplifica ainda mais o problema.
Diagnóstico
O diagnóstico desses transtornos funcionais é clínico. Não existem diferenças na ressonância e nem em exames de sangue. O cérebro é estruturalmente normal, mas funcionalmente diferente.
Cada patologia é um universo, com uma intensidade peculiar caso a caso, por isso chamamos de espectro (tendo casos mais graves e casos menos graves).
Vamos falar um pouco sobre TDAH/ Dislexia/ Autismo/ Superdotação.
1- TDAH (Resumo)
Eis aqui um dos transtornos mais frequentes na prática neurológica. Estima-se de até cerca de 5% da população apresente TDAH em algum grau. O diagnóstico é mais frequente em meninos (cerca de 3:1), mas ocorre também em meninas, sendo cada vez mais diagnosticado nesse subgrupo (geralmente com a forma desatencional sem hiperatividade).
Os sintomas clássicos são: desatenção / impulsividade e hiperatividade
- Desatenção: Dificuldade de direcionar e sustentar a atenção, assim com dificuldade de partilhá-la ou transitar entre dois afazeres.
O aluno desatento acaba perdendo muita matéria, por ficar viajando em seus pensamentos ou ligado em ocorrências irrelevantes na sala de aula, perdendo conteúdo e baixando sua produtividade.
Para alguém com desatenção, levar a cabo atividades monótonas e pouco estimulantes é um grande martírio, baixando a capacidade de fixação e o rendimento cognitivo global. - Impulsividade: no TDAH existe o distúrbio do impulso. Frequentemente seus portadores fazem as coisas meio sem pensar, de forma rápida e por vezes “queimando a largada”. Interrompem conversas, respondem de forma precipitada, etc.
- Hiperatividade: pessoas com /TDAH muitas vezes são inquietas, agitadas, “ligadas no 220”. É comum ficarem andando pela sala, tamborilando e mostrar bastante inquietação física e mental, como se estivesse pensando de forma acelerada e como se tivesse muita energia para gastar. Esse fenômeno é mais visto em meninos e em crianças, podendo estar ausente em formas desatencionais ou em adultos.Adultos = acredita-se que 2/3 das pessoas com TDAH mantenham sintomas na vida adulta. Pessoas com TDAH tem dificuldade de levar a cabo projetos que exigem envolvimento de médio e longo prazos, empurram afazeres com a “barriga” (procrastinação). O transtorno não tratado aumenta o risco de busca de prazeres efêmeros, uso de drogas, criminalidade, risco de depressão, etc.
TDAH – desatenção – hiperatividade – impulsividade Tratamento – o tratamento é delineado caso a caso e pode incluir medicamentos, ajustes pedagógicos e empenho familiar. O prognóstico depende do momento do diagnóstico, da resposta ao tratamento e do empenho pedagógico familiar.
2- Dislexia
A dislexia compõe um conjunto variável e espectral em gravidade de transtornos de linguagem, principalmente escrita e leitura. Os portadores (que não são poucos, aliás – cerca de 5 a 15 % da população) apresenta dificudade de automação de leitura. Mantem erros, fluência alterada, dificuldades de entonação. A leitura torna-se improdutiva e cansativa, com dificuldades de entendimento e fadiga mental. É comum haver trocas de letras e sílabas, dificuldade de ditado, cópia e soletração e até perturbações como a escrita espelhada.
O portados apresentam QI normal ou até acima da média, são criativos, apresentam bom raciocínio lógico e uma interessante “veia artística”. No entanto, como o ensino está pautado em grande parte na codificação escrita, suas dificuldades podem derrubar o rendimento escolar, alterando sua autoestima e encolhendo suas oportunidades. O reconhecimento precoce melhora os resultados, criando ajustes e estratégias pedagógicas complementares para um desenvolvimento adequado.
3- Autismo infantilAqui, mais uma importante síndrome neurológica. Um distúrbio complexo e heterogêneo do desenvolvimento cerebral. Acredita-se que cerca de 1% da população apresente sintomas dentro do espectro autista, alguns mais graves (clássicos) e alguns mais brandos (alto funcionamento). Infelizmente o diagnóstico ainda é um pouco tardio no nosso meio (cerca de 7 anos), sendo a performance escolar dificultosa ainda um fator importante para o reconhecimento do autismo. Os meninos são mais acometidos que as meninas (cerca de 3 a 4 para 1 menima)
O autismo é marcado por alterações em três aspectos MENTAIS:
1- Interação pessoal = autista tem dificuldade em perceber e se relacionar com o outro, partilhar interesses, olhar os olhos. Ficam desconfortáveis como toque, parecem não se esforçar muito para gerar empatia.
2- Alteração de linguagem = dependendo da gravidade, alguns nem chegam a desenvolver linguagem adequada ou mantém um padrão bem rudimentar de comunicação. Em formas leves a linguagem se desenvolve, mas carece de figuras de linguagem, é concreta, direta e por vez muito sincera.
3- Comportamento – autistas gostam de rotinas, coisas previsíveis. Brincam de forma diferente, empilhando ou alinhando objetos. São concretos, pouco lúdicos e fantasiosos. Se saem do seu lugar de conforto, sentem-se mal e podem ter ataques de raiva e birra.
Além desses 3 eixos principais, os autistas são relativamente resistentes a dor, não gostam de locais barulhentos e agitados, entre outras características peculiares.
AUTISMO INFANTIL
– Interação Social
– Linguagem
– ComportamentoApesar de ser um transtorno mais abrangente, o diagnóstico muitas vezes surge durante a alfabetização (escolarização), uma vez que o comportamento da criança no grupo fica muito diferente do restante, crises de choro em ambientes agitados (como uma sala de aula) e a restrição de área de interesse pode levar a baixa escolar evidente e apontar com mais clareza que algo está errado com a criança.
4- SUPERDOTAÇÃO
Estranho falar em superdotados como causa de dificuldade de aprendizado. Mas acho válido lembrar deles sim. A despeito de seu potencial (GLOBAL ou ESPECIALIZADO) em determinada função cognitiva, os superdotados podem ter dificuldades escolares. Isso ocorre pela dificuldade focal em determinado tema ou matéria, pelo desapego ao currículo oferecido ou mesmo por questões de vulnerabilidade social. Não raro, crianças com dificuldade mostram grandes capacidades não exploradas e nem percebidas por seus pais e educadores.
DICAS PARA DESCONFIAR DE UM PROBLEMA NEUROLÓGICO
1- Alteração ESCOLAR associado e comportamentos diferentes em outros ambientes
2- Dificuldades cognitivas, comportamentais ou emocionais semelhantes a outros membros da família.
3- Atraso do desenvolvimento na primeira infância
4- Dificuldade em engrenar mesmo após ajustes pedagógicos
5- Diferenças relevantes em relação a crianças da mesma idade e da mesma escola.OBS – Nesses casos é fundamental uma avaliação e seguimento de uma equipe multidisciplinar incluindo pedagogo, psicólogo e neuropediatras/ neuropsiquiatria com experiência nesses casos.