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novembro 13, 2012Entendendo a Esclerose Múltipla
novembro 13, 2012A Paralisia Facial Periférica é um acontecimento repentino que geralmente assusta bastante o paciente e seus familiares. Ocorre fraqueza ou até paralisia de um lado do rosto, fazendo com que a boca entorte para o lado saudável. A percepção dessa assimetria leva o paciente ao médico com receio de um Acidente Vascular Cerebral (um derrame).Vamos falar um pouco sobre essa patologia relativamente comum.
Qual a diferença de um Derrame (AVC) para a Paralisia Facial Periférica?
O Acidente Vascular Cerebral é um ferimento em algum ponto do cérebro causado por oclusão de algum vaso; ele pode causar uma gama enorme de sintomas, entre eles uma fraqueza na face do paciente. Geralmente essa fraqueza ocorre no andar inferior da face e quase sempre está associado a outros sintomas fora da face. (fraqueza no braço, distúrbios da fala, alteração da sensibilidade, etc…). O paciente geralmente é mais velho e com fatores de risco para AVC (veja texto “Como reconhecer um AVC”).
A Paralisia Facial Periférica é uma disfunção do nervo que movimenta os músculos de metade da face. O problema não está no cérebro, e sim no nervo entre sua saída do cérebro e sua chegada nos músculos da face.
A disfunção do nervo pode ocorrer por diversas razões: infecções, traumas, distúrbios de glicemia, tumores de parótida, etc…; mas na maioria dos casos nenhuma causa é identificada. Chamamos esses casos sem um desencadeante óbvio de Paralisia de Bell.
A procura de um médico Neurologista é fundamental para reconhecer a paralisia facial, diferenciar sua forma Central (doença no Cérebro – AVC, por exemplo) e sua forma periférica (doença no nervo – paralisia de Bell, por exemplo) e definir a necessidade de exames complementares e tratamento.
Qual paciente pode ter uma Paralisia Facial Periférica?
Virtualmente qualquer pessoa, mesmo sem qualquer outra patologia, pode ter paralisia facial periférica. Ocorre em homens e mulheres de qualquer idade. É rara abaixo dos 10 anos de idade. Uma população que tem risco maior são as gestantes e mulheres que acabaram de dar a luz.
Como reconhecer a Paralisia Facial Periférica?
O quadro é geralmente bem agudo o paciente acorda ou percebe de uma hora para outra uma assimetria no rosto. A fraqueza acomete toda uma metade da face, da boca até a testa. A boca entorta para o lado preservado, o olho do lado acometido tem dificuldade de fechar a pálpebra (ficando mais aberto),o paciente não consegue elevar a sobrancelha do lado acometido, as rugas da testa do lado alterado desaparecem.
Outros sintomas podem associar-se a essa fraqueza:
- Alteração do paladar na metade da língua do lado doente (mais sentida nos 2/3 anteriores da língua).
- Redução das lágrimas e saliva do lado acometido (dificilmente esse sintoma é percebido pelo paciente).
- Algum formigamento ou dormência nos músculos fracos pode ser notada, mas geralmente não é proeminente.
- Alguns pacientes referem dor na região atrás da orelha do lado com a paralisia.
Atenção: Na paralisia facial periférica clássica a fraqueza é em apenas um dos lados da face (não dos dois lados!) e não há fraqueza nos membros (isso é um sinal mais preocupante e deve ser muito bem investigado).
Qual é a causa da Paralisia Facial Periférica?
A grande maioria das paralisias faciais periféricas agudas NÃO apresenta causa identificável. Estima-se que uma boa parte desses casos sejam gerados por reativação do vírus herpes tipo 1 (aquele que causa lesão eventual nos lábios – com vesículas). O vírus do herpes ficaria latente nos nervos por muitos anos e eventualmente geraria uma inflamação que causaria boa parte das paralisias faciais. Essa é uma teoria forte, mas de difícil comprovação nos casos do dia-a-dia, por isso fica sempre como a principal hipótese nos casos sem outra explicação demonstrável. Mesmo sendo uma reativação viral o paciente geralmente não apresenta febre, outros sintomas virais e, na grande maioria das vezes, não apresentam as vesículas lábias concomitantemente.
A Paralisia de Bell (paralisia facial periférica sem causa aparente) é causada provavelmente pela reativação do herpes simples tipo 1. Se não houver sinais de alarme o paciente pode receber o tratamento e alta mesmo sem realizar exames, devendo fazer seguimento ambulatorial.
Outras causas infecciosas podem ser pensadas em casos selecionados, tais como HIV, Herpes Zoster e Doença de Lyme; causas imunológicas, como a Polirradiculoneurite, a Miastenia Gravis e a Sarcoidose; causas vasculares, como conflito neuro-vascular grave e isquemia do nervo facial; causas tumorais, como metástase ou neurinomas . São doenças mais raras e investigadas em casos selecionados, quando o contexto clínico é propício ao seu aparecimento, o quadro clínico é sugestivo ou a evolução é desfavorável.
Qual é a evolução da Paralisia Facial Periférica sem causa aparente (Paralisia de Bell)?
A paralisia de Bell é de evolução benigna. A percebida de repente pelo paciente ou seus familiares, pode piorar em dias. A intensidade da fraqueza varia de paciente para paciente. Atinge o ápice clínico, fica estável em um período que dura de dias a poucas semanas e apresenta melhora progressiva após.
A grande maioria dos pacientes apresenta recuperação total ou bem satisfatória entre 4 e 8 semanas. Mesmo sem medicações. Uma pequena parcela de paciente pode ficar com seqüelas (algum grau de fraqueza após término da fase de recuperação – ou mesmo paralisia total).
Qual o tratamento da Paralisia de Bell?
A Paralisia Facial geralmente tem boa evolução mesmo sem tratamento algum. No entanto, alguns trabalhos mostram alguma ação no intuito de acelerar a recuperação com uso de Corticóide associado ou não com medicação Anti-viral. Essas medicações são utilizadas em alguns casos, a decisão dependerá do grau da fraqueza, tempo de instalação, contexto clínico (idade da paciente, doenças de base, etc…). A decisão fica a cargo do médico que assiste o paciente.
Independente se o paciente fará uso ou não de alguma medicação por boca um cuidado extremamente importante é com o olho do lado paralisado:
A fraqueza na face gera dificuldade de oclusão do olho do lado fraco. A dificuldade em fechar as pálpebras pode gerar secura ocular e predispor o paciente a úlcera de córnea, uma complicação oftalmológica grave da paralisia facial. Para evitar tal complicação é recomendado o uso de lágrima artificial (colírio lubrificante) e ocluir o olho durante o sono (usando uma fita adesiva, por exemplo). Esses cuidados são importantes até que o paciente possa realizar essa oclusão sem nenhuma dificuldade.
Que exames devem ser solicitados?
A decisão de realizar ou não exames é do médico e depende de cada caso. Geralmente o diagnóstico é baseado na história clínica e no exame clínico e neurológico do paciente. Em uma boa parcela de casos nenhum exame precisa necessariamente ser solicitado. O paciente deve ser orientado e seguido até a recuperação. Em casos selecionados pode ser útil a Ressonância Nuclear Magnética (para estudo da anatomia do nervo), o estudo do líquor (colhido através de punção na região lombar), exames de sangue, eletroneuromiografia, etc…
O que fazer em casos com recuperação insatisfatória (seqüelas)?
Nos casos com recuperação insatisfatória é possível utilização de Botox (no lado bom), para melhorar a simetria (uma vez que o aspecto estético é a principal problema da paralisia sequelar). Há outras opções cirúrgicas como descompressão do nervo em casos graves (ainda em estudo) e microcirurgia de transposição de nervo (também medida de exceção).
Considerações Finais
A Paralisia Facial Periférica é uma patologia relativamente comum de origem e evolução benigna. O susto é grande no começo, é necessário procura de um médico com experiência para diferenciá-la de um quadro central (um AVC por exemplo). O médico decidirá se há ou não necessidade de exames e se há ou não vantagem do tratamento com medicações. Cuidado especial com o olho deve ser tomado na grande maioria dos casos. O seguimento clínico é fundamental para reconhecer e intervir no caso de evolução desfavorável.