Alzheimer
novembro 3, 201510 dicas de Ouro! – Seguindo os passos a seguir, você nunca mais vai se esquecer de nada!
novembro 16, 20151. Qual o caminho das memórias no cérebro?
R. Toda vivência precisa passar por um longo caminho até se tornar uma memória duradouro. O cérebro primeiramente precisa perceber o estímulo, isso ocorre no córtex sensorial. A localização da percepção sensitiva depende do tipo de estímulo em questão. Um estímulo auditivo será percebido na região da audição (lobo temporal), um estímulo tátil, na região do tato (córtex parietal), visual na área da visão (occipital), etc.
Após receber o estímulo o cérebro precisa prestar atenção nele, existe um bombardeiro de informações a todo o momento, o sistema de atenção visa fazer uma triagem inicial para escapar dos estímulos poucos relevantes naquele contexto. Essa peneira fica a cardo de uma região bem anterior, os lobos frontais.
Após perceber e atentar para o estímulo, o cérebro atribui um grau de relevância, de importância para o estímulo e começa a fixa-lo (memorização). Para essa consolidação da vivência na mente são fundamentais os hipocampos, estruturas que ficam dentro dos lobos temporais, bilateralmente (uma região mais lateral do cérebro. O hipocampo é capaz de fortalecer as memórias, que serão armazenadas no córtex cerebral, de forma bem espalhada, e não em um único local. O arquivamento é feito nas regiões aonde as memórias foram vividas inicialmente, em um processo de facilitação, fazendo com que um gatilho (tempos depois) provoque a sensação de lembrança do evento.
Como podemos ver, trata-se de um processo sequencial, que envolve praticamente o cérebro todo e está sujeito a erros em pontos distintos.
Vivencia – Atenção – RETENÇÃO – EVOCAÇÃO.
2. Como o cérebro determina o que será lembrado e o que será esquecido?
R. O sistema de escolha cerebral do que vira ou não vira memória é bastante completo e dinâmico. O cérebro atribui grau de relevância a depender de aspectos do estímulo, do contexto e de aspectos intrínsecos ao sistema nervoso. Com relação ao estímulo, por exemplo, terá mais chance de ser fixado aquele que for intenso, mais duradouro, recorrente (repetitivo) e que destoar do contexto em que for apresentado. O cérebro dá preferência a estímulos expostos em contextos emocionais (positivos ou negativos), também fixa com mais facilidade coisas que se remetem ao interesse momentâneo. Sem interesse e motivação, a memorização fica prejudicada.
O sistema avalia todos esses critérios e busca fixam o que parece relevante e desprezar o que parece irrelevante. É um sistema involuntário e obviamente sujeito a erros de julgamento. Por isso vire e mexe esquecemos coisas importantes e lembramos de fatos sem nenhuma importância. Quem busca uma memorização melhor deve dar uma ajudinha consciente a esse sistema, auxiliando o cérebro a definir o que é ou não é importante durante a exposição ao estímulo
3. Qual é o papel dos neurônios na formação das memórias?
O neurônio é a célula funcional do cérebro. Nada ocorre sem sua participação. Uma boa memória é fruto de alteração sináptica em vários neurônios. O neurônio é uma célula capaz de se comunicar entre si, e a sinapse é o local dessa comunicação, que depende de fenômenos elétricos e químicos. Os neurônios formam redes, uma sequência de ativação que traz uma sensação, um pensamento, etc. Quando vivemos algo, esse estímulo passa por um caminho, a memória seria o rastro desse caminho, um processo de facilitação sináptica capaz de percorrer o mesmo caminho biológico na ausência do estímulo que lhe deu origem na primeira vez.
Sendo assim, a memória é totalmente dependente do neurônio, que além de albergar a facilitação de determina essa “cicatriz” cerebral, também é importante na percepção atenção, fixação, associações, etc.
4. Por que a idade dificulta o processo de formação de novas memórias?
R. Existem várias teorias, e provavelmente a explicação não seja única. Com a idade os processos mentais podem ficar um pouco lentificados e mais sujeitos ao erro, dado a perda neuronal relacionada ao envelhecimento e à redução da plasticidade neuronal. Além disso, existe alteração do espectro de interesse, aspectos psíquicos, hormonais e mesmos sociais e de rotina de vida) que impões uma rotina menos estimulante nessa fase da vida), justificando aumento dos esquecimentos. Agora, em um idoso saudável, a baixa na capacidade é muito sutil e geralmente não atrapalha suas atividades diárias, não alterando seu grau de independência, o cérebro saudável se mantém apto a fixar novas memórias e a aprender até o último segundo de vida. Em casos de declínio cognitivo importante é fundamental estabelecer uma investigação e diagnósticos específicos, que também são mais comuns nessa faixa etária.
5. Quais são os tipos de memória e as diferenças entre eles?
R. As memórias podem ser divididas de várias formas.
Com relação ao tempo:
- Ultrarrápida: aquela que dura segundos e depende mais da atenção sustentada do que que dos hipocampos. Exemplo: quando alguém passa o número de telefone e a gente fica repetindo mentalmente até encontrar uma caneta e um papel. (Qualquer distrator pode eliminar essa memória)
- Curto Prazo: aqui ficam eventos recentes da vida, coisas que fizemos nas últimas horas e dias, são memórias cotidianas que podem ser consolidadas definitivamente ou não, a depender da importância e da recorrência da necessidade em evoca-las. São memórias que duram dias até poucas semanas.
- Longo Prazo: aqui temos memórias de verdade, fatos e ocorrências que marcam nossa vida por algum motivo e que podem durar anos, década sou até uma vida inteira. Temos vivências que geram praticamente uma cicatriz cerebral, podendo ser evocadas e se fortalecendo a cada evocação. Feche os olhos e busque o rosto de seu pai, o cheiro de café, uma noite de natal, enfim, lá estão! Complexas experiências pessoas marcando um patrimônio totalmente pessoal e intrasferível.
Mas existem outras formas de classificação, como por Conteúdo:
Por Conteúdo:
- Memória Episódica: são memórias de episódios, eventos vividos, pensados ou mesmo imaginados. Temos a memória e a noção de quando passamos por ela, é uma memória dita biográfica, consciente, com uma franca construção de lembrança. Por exemplo, ontem eu comprei uma camisa azul. Tenho clareza do ato que está alocado em um ponto específico do tempo, consigo determinar o contexto em que isso aconteceu, porque eu vivi.
- Memória Semântica: trata-se de um conceito abstrato de memória conceitual, aprendizado de aspectos não vivenciados, mas sabidos conscientemente. Eu sei o que é uma maçã, sei que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil, que o céu é azul etc., mas não tenho uma percepção clara de quando vivi isso, porque é meu conhecimento de mundo e das coisas, aprendido de forma não biográfica, possivelmente, com a repetição de exposições e utilizações. Trata-se de uma memória bastante sólida e duradoura.
- Existem outras classificações: tais como EXPLÍCITA (gera lembrança consciente) Vs IMPLÍCITA (sem lembrança consciente). Memória de procedimento (como aprendizado de atos motores, como andar de bicicleta, por exemplo), etc.
6. Por que pessoas que passam por situações traumáticas podem perder a memória?
R. A memorização está muito atrelada a aspectos emocionais, o contexto emocional pode ajudar a fixação de uma vivência ou eventualmente dificultá-la. De modo geral, tudo que é exposto associado a uma emoção (seja positiva ou negativa) tem maior facilidade para fixação, por exemplo: festas e datas comemorativa, nascimento dos filhos, viagens, aspectos relacionados a relacionamentos humanos, situações constrangedoras, violência urbana, etc. Agora, existe um limite máximo de tensão. Quando a situação é extremamente estressante (e esse limiar varia de pessoa para pessoa) ocorre um bloqueio na memória, tanto na fixação do evento em si, como (em casos mais graves), na evocação de memórias anteriores ao evento. Isso pode ocorrer em casos de franco estresse, a pessoa pode perder o acesso à memória. Não que esteja apagada, mas ela fica inacessível à consciência, em um complexo mecanismo de proteção, como a queda de um disjuntor elétrico em um pico energético. Quase sempre a memória retorna (em algum grau), com o passar do tempo. Isso demonstra o qual complexa é a interação entre memória e contexto emocional, agindo como regulador constante para fixação com mecanismos de proteção para situações extremas.
7. É possível aumentar a capacidade de armazenamento da memória?
R. A capacidade de memorizar de uma pessoa depende de aspectos genéticos, esses imutáveis, e de aspectos ambientais, contextuais, sendo esses modificáveis. Você pode amplificar sua capacidade, atingindo seu potencial genético completo regulando o ambiente, o comportamento, mantendo seu cérebro saudável e motivado e treinando o processo de memorização. Obviamente o inverso também é verdade, você pode oscilar para baixo, reduzindo sua performance, sempre que mantiver um ambiente e hábitos inadequados para a memorização, mantendo-se abaixo do seu potencial genético.
O cérebro melhora com o uso e treino conscientes. Ninguém nasce sabendo tocar piano, ou falando uma segunda língua, ou profissionalizado em uma área de atuação, tudo isso é aprendido e desenvolvido com prática guiada. A memória não é diferente! Além de apresentar um estímulo adequado (intenso, repetido, destacado do contexto, duradouro, etc.) é fundamental estar com o cérebro adequado (descansado, saudável, motivado, direcionado para a tarefa e treinado). O trabalho de facilitação de memorização visa sempre desligar um pouco o piloto automático e tomar as rédeas do processo, criando links associativos, fazendo analogias, amplificando e diferenciando o estímulo em questão, avisando o cérebro da importância de memorizar e estabelecendo caminhos para propiciar uma evocação facilitada.
Memorizar bem não é necessariamente memorizar mais, mas sim memorizar melhor. Organizar a informação com eficiência e velocidade, conseguir extrair a essência e evitar aspectos irrelevantes de determinadas vivência, com isso aumentando o rendimento na evocação, sem brancos, confusões ou perdas constrangedoras. Todo mundo consegue melhorar, mas precisa se dedicar, alterar hábitos de vida e estabelecer novas rotinas cognitivas.
8. As memórias podem sofrer alterações com o passar do tempo?
R. Sim, sem dúvida. A memória é dinâmica. Não fixamos exatamente o que vivemos, temos sempre um registro aproximado da realidade. E esse registro ainda pode se alterar mais com o passar dos anos, a cada recordação. O cérebro promove pequenas alterações, complementa lacunas, distorce pequenos detalhes, que podem, ao final de muitas revivências mentais, transformar bastante a memória em relação ao evento em si. Por isso uma história vai se modificando, quem nunca ouviu “quem conta um conto aumenta um ponto”? Aliás, é bem possível que duas pessoas que viveram determinada situação tenham memórias diferentes, as vezes até antagônicas em aspectos objetivos, mostrando que a memória é uma experiência variável e individual, sendo apenas uma versão editada e aproximada da realidade.
9. Quais fatores interferem na memorização e por que isso ocorre?
R. Muitos fatores interferem na memorização, por isso é muito comum as pessoas se queixarem de redução de seu rendimento em alguma fase da vida (até 50 % da população adulta tem queixas eventuais de memória). Vou citar abaixo algumas disfunções comuns que impactam na performance:
- Desatenção
- Fazer várias coisas ao mesmo tempo (modo multitarefa)
- Sobrecarga (excesso de informações)
- Falta de tempo (exposição rápida ao estímulo)
- Ambientes inadequados
- Falta de sono
- Sedentarismo
- Uso de álcool e drogas
- Medicamentos (específicos)
- Problemas hormonais (como tireóide, menopausa, andropausa)
- Ansiedade e Depressão
- Problemas neurológicos
- Falta de motivação
- Falta de treinamento
Essa lista é ainda mais longa do que isso! A memória não é uma simples função, é um processo cognitivo complexo, sequencial e muito sujeito a falhas, ruídos e deslizes. Ninguém nunca terá uma memória perfeita, mas grandes oscilações para baixo devem levantar a preocupação com hábitos inadequados de vida ou mesmo com problemas físicos e emocionais, sendo recomendado, em casos persistentes, a investigação médica especializada.
10. Por que o cérebro esquece certas informações? Qual é a importância do esquecimento para o bom funcionamento da mente?
R. O esquecimento é um processo vital, tão importante como a memorização. Fatos fixados, mas que depois se mostrem sem importância são excluídos automaticamente, em um processo dinâmico contínuo de limpeza. A chance de esquecimento é maior para eventos cotidianos e informações que não são utilizadas em um período de dias a semanas. O cérebro apaga inicialmente os detalhes e mantem uma síntese geral do evento. Tome por exemplo um filme, logo após assistir conseguimos descrever as cenas, temos uma visão detalhada do enredo, dos atores, da trilha sonora, etc. Após 1 semana, lembramos da história, sem tantos detalhes, dos atores principais, de algumas cenas marcantes. Após 1 mês a informação fica ainda mais sintética e vaga, como a temática, as emoções, a “moral da história”, etc. Após alguns meses algumas pessoas chegam a assistir o mesmo filme e terem dificuldade de perceber que já virão determinada cena. A razão disso é obviamente a quantidade de informação enorme que pode ser retida, de forma desnecessária, gastando energia, dificultando o gerenciamento da informação e causando conflitos associativos. O cérebro precisa do esquecimento para gerenciar a informação importante, da mesma forma que uma dona de casa consegue organizar um cômodo tão bem quanto menos itens estiverem amontoado nele. Para escapar do processo de decaimento temporal é fundamental recordar a informação de vez em quando, fortalecendo novamente as redes relacionadas àquela vivência.
Além disso, desse processo de eliminar informação inúteis ou pouco pertinente, o esquecimento também visa superações emocionais, esquecemos ou atenuamos muitas experiências emocionalmente negativas, superando traumas, frustrações, dívidas morais, etc, em um mecanismo fundamental para a sobrevivência.
11. Podemos escolher esquecer eventos específicos?
R. O processo de esquecimento é involuntário, não podemos controla-lo ativamente. Coisas irrelevantes e pouco lembradas tendem a cair automaticamente no esquecimento. Na verdade, sempre que tentamos esquecer algo conscientemente, pode ocorrer um fenômeno paradoxal e fixamos o evento ainda mais. Ao pensar em esquecer já estamos recordando e fortalecendo a memória.
Isso pode ser problemático as vezes, pois as vezes passamos por eventos traumatizantes que geram sofrimento crônico, como na síndrome do estresse pós-traumático. A capacidade de esquecer eventos específico poderia ajudar esse tipo de pessoa, mas infelizmente o processo não é tão simples, sendo a cura hoje mais fruto de superação e ajuste psíquico do que um verdadeiro esquecimento terapêutico.
12. Qual é o papel do sono na memória?
R. O sono é fundamental para uma boa memorização. Ele tem ação dupla, consolidando e organizando a informação das vivências dos dias anteriores e preparando o cérebro para as vivências do dia seguinte. Durante o sono passamos pela fase de sono REM, aonde sonhamos, nessa fase o cérebro organiza uma série de informações dentro dele, facilitando a evocação no futuro. Quando dormimos mal, não só perdemos essa organização do passado, como evoluímos, no dia seguinte, com mais desatenção e com mais dificuldade de retenção de informações. A longo prazo, a privação de sono contínua favorece doenças físicas e mentais que podem levar a mais e mais esquecimentos. Por isso quem busca uma boa memorização precisa investir, entre outras coisas, em um sono linear, com boa arquitetura e com duração adequada (em torno de 8 horas por dia, para a maioria das pessoas).
Turbine Sua Memória
Um livro (e-book) de fácil leitura, escrito para quem busca melhorar sua performance intelectual. Nesse trabalho, o Neurologista Leandro Teles conduz o leitor por conceitos neurológicos importantes, identificando hábitos e comportamentos que limitam a capacidade mental, com foco especial para as dificuldades de memorização do dia-a-dia. Um livro para todos!