10 coisas que você precisa saber sobre a Enxaqueca
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dezembro 25, 2012Entrevista para REVISTA POLISHOP – INSÔNIA
1- A insônia é de fato uma doença ?
R. Consideramos a insônia uma dificuldade em iniciar ou manter o sono com tempo e qualidade suficientes para manter a saúde e a qualidade de vida. Dependendo do tempo e do contexto ela pode sim ser considerado uma doença. A privação de sono gera disfunção no corpo e no cérebro a curto, médio e longo prazo. Deve ser prontamente reconhecida, ter seus determinantes investigados e ser tratada a fim de minimizar o impacto da saúde com um todo.
2- É muito comum a queixa de insônia? Ocorre mais em homens, mulheres ou é indiferente o sexo? Tem uma idade que é mais comum que isso aconteça?
R. Mulheres tem mais insônia do que homens. Isso ocorre por questões hormonais (estrógeno) e porque as mulheres tem índices maiores de ansiedade, depressão e dores crônicas, associados a dificuldade em dormir. Mulheres são também mais sensíveis aos ambientes pouco adequados e, com frequência, estão ao lado de homens roncadores, o que piora ainda mais o problema. Com relação à idade temos uma faixa entre 40 e 70 anos aonde a dificuldade de dormir é mais comum. No entanto, temos insônia e queixas de distúrbios de sono em todas as idades, inclusive na infância.
3- A primeira coisa a verificar nas pessoas que sofrem de insônia são seus hábitos?
R. Sem dúvida. Os hábitos inadequados explicam uma boa parte das dificuldades em iniciar e manter o sono. O nível de ruído, o tipo de cama, as atividades físicas e mentais próximos ao horário de dormir, a alimentação, etc… tudo isso deve ser questionado e alterado antes de qualquer coisa.
4- Existem bons hábitos que ajudam a conciliar o sono?
R. Rotina: Dormir e acordar aproximadamente no mesmo horário todos os dias; Alimentação: evitar estimulantes e refeição copiosa próxima ao horário de dormir; Atividade Física: praticar exercícios aeróbicos regularmente, mas não próximos ao horário de ir dormir; Ambiente: quarto silencioso, controle de iluminação e temperatura, colchão e travesseiro adequados; Atividades mentais passivas antes de dormir: música, leitura, televisão (lembrando de desligá-la na hora de ir dormir), etc…; Tratar doenças clínicas e do sono: apneia, ronco (também do parceiro), bruxismo, pernas inquietas, ansiedade, depressão, transtornos da tireoide, disfunção de próstata, refluxo gastro-esofágico, etc…
5- A cafeína tem o mesmo efeito em todas as pessoas? Você recomenda que seu uso seja suspenso quantas horas antes de dormir?
R. A cafeína é um estimulante clássico do Sistema Nervoso Central. Recomenda-se a suspensão do uso pelo menos 2 horas antes do horário de dormir. Lembrando que, além do café, também temos cafeína nos refrigerantes de cola, chá preto, mate, verde, chocolate e mesmo em algumas medicações analgésicas.
6- Quando a insônia deixa de estar ligada aos maus hábitos e passa a ser um problema mais sério?
R. Sem dúvida, quando a dificuldade de dormir ultrapassa as questões ambientais e de hábitos inadequados um especialista deve ser procurado. Eventualmente é necessário estabelecer um diagnóstico mais apurado de insônia primária (não secundária a outros problemas). Também é fundamental traçar um plano de tratamento a curto, médio e longo prazo. Qualquer medicamento que se faça necessário deve ser utilizado sob orientação médica personalizada, com a menor dose necessária e por um período estipulado de tempo, a fim de minimizar os efeitos deletérios da medicação.
7- Como se explica à diferença entre a insônia inicial, ou dificuldade para dormir, e a que ocorre no meio da noite?
R. Insônia Inicial = Dificuldade de iniciar o sono. O paciente vai para cama e o sono não vem, fica rolando pra lá e para cá e adormece muito depois do que gostaria. É o tipo mais comum. Insônia de Manutenção = A paciente pega no sono, mas desperta no meio da noite e demora a voltar a adormecer. Insônia Terminal = O paciente pega rápido no sono, dorme bem, mas acorda cedo de mais, sem necessidade (esse tipo é muito comum em idosos).
8- Como se diferenciam os casos agudos e passageiros dos casos mais graves de insônia?
R, Isso é feito caso a caso. É preciso conhecer o contexto em que a insônia se iniciou para definir se esta é reacional ou um problema cerebral específico. De modo geral consideração aguda (potencialmente passageira) a insônia com menos de 3 semanas de evolução. Acima disso temos a insônia crônica, mais preocupante e de mais difícil tratamento. Por isso que devemos intervir para que não haja cronificação do problema, procurando ajuda ainda na fase aguda.
9- Como é o tratamento da insônia?
R. Primeiro passo = Diagnóstico preciso do tipo de insônia, contexto, duração (aguda vs crônica) e seus determinantes. Devemos intervir sempre no estilo de vida e nos hábitos de sono. Devemos tratar todas as doenças clínicas, do humor e relacionadas ao período noturno para tentar otimizar o sono reparador. Por fim, devemos delinear quais pacientes se beneficiarão de medicamento para dormir, qual a classe, a dose e o tempo de uso.
10- Até que ponto é recomendado o uso de tratamentos medicamentosos?
R. Apenas para casos selecionados, sob supervisão médica rigorosa, com dose e tempo de uso estipulados. Os medicamentos para dormir podem associar-se a dependência física e psíquica, além de inúmeros efeitos colaterais e médio e longo prazo. Jamais utilize esse tipo de medicamento sem orientação de seu médico de confiança.
11- Quais as principais medidas práticas que você considera necessárias para facilitar o sono?
R. Atentar para o contexto ambiental e comportamental relacionado ao sono. Ter hábitos de vida saudáveis, controlar o peso, evitar consumo de álcool e nicotina. Por fim, procurar atendimento de um neurologista no caso de dificuldade importante de sono ou sonolência diurna excessiva. Jamais se automedicar ou abdicar cronicamente de boas noites de sono.
12- Assistir à televisão no quarto realmente atrapalha o sono, ou é um mito?
R. Isso depende muito da pessoa. Assistir televisão antes de dormir é uma faca de dois gumes. Por um lado, é uma atividade passiva que pode relaxar a pessoa (lógico que isso depende dos programas assistidos). Por outro lado, a exposição luminosa pode sinalizar ao cérebro que não é hora de dormir, reduzindo a secreção do hormônio melatonina. A dica é assistir TV sempre com uma distância razoável da tela e procurar desligá-la alguns minutos antes de dormir. A pior das hipóteses é dormir com ela ligada a noite toda, emitindo barulho e luz (que pra piorar variam de cena para cena). Isso desregula completamente a estrutura interna do sono. Outra dica é tentar, na medida do possível, assistir TV na sala e ir para a cama somente na hora de dormir. Isso associa a cama ao ato de dormir, servindo de estímulo cerebral para o descanso.
13- Se durante a semana, uma pessoa não consegue dormir direito e vá ficando cada dia mais cansada, é recomendado que no fim da semana ela possa, digamos, tirar o atraso ou deve levantar na mesma hora de sempre? Por quê?
R. O sono encerra as atividades de um dia. Sono atrasado não fica acumulado no cérebro, não funciona assim. A compensação pela noite mal dormida deve ocorrer, idealmente, em até 24 horas. Após isso, os malefícios da privação de sono não são mais compensados adequadamente. Por isso, nada que deixar para dormir bem apenas nas férias, nos feriados e finais de semana. O melhor dia para dormir bem é hoje à noite. A dica é evitar perder horas de sono, no caso de franca necessidade, tentar compensar o mais rápido possível, jamais acumule dias com privação seriada de sono, isso faz um estrago silencioso na saúde que não pode ser, de forma alguma, equilibrado com horas a mais de sono eventuais.
14- Qual o número de horas de sono necessárias para se levar uma vida saudável? Aplica-se a todas as pessoas?
R. Isso varia um pouco de pessoa para pessoa. De modo geral algo entre 6 e 10 horas são suficientes. Mas, mais importante que o tempo é a qualidade do sono (sono profundo e contínuo). Se vc desperta cansado e sente-se com sono intenso durante o dia é sinal que não está dormindo bem, seja em número de horas, seja em qualidade das horas dormidas.
15- O cansaço prejudica o sono?
R. A relação entre o sono e o grau de cansaço depende de diversos parâmetros. De modo geral, o cansaço facilita o adormecimento e o aprofundamento do sono. Por outro lado, desestrutura um pouco o sono e aumenta o risco de ronco e apneia, além de aumentar a necessidade de horas de sono neste dia, alterando a rotina. Aconselha-se sempre um dia mental e fisicamente produtivo, tendo uma boa noite de sono encerrando esse dia de atividades. Não se recomenda esforço físico extenuante próximo ao horário de dormir
16. a) Quais são os benefícios de uma noite bem dormida no dia a dia e na saúde do indivíduo?
R. Quem dorme bem tem melhor capacidade de concentração, memória, raciocínio mais rápido e é mentalmente mais eficiente. O sono adequado melhora o humor, reduz a ansiedade e melhora o vigor para as atividades diurnas. Além de tudo isso, quem dorme bem engorda menos, está mais protegido de doenças cardiovasculares e problemas relacionados ao envelhecimento.
b) Quais os impactos negativos que o sono e cansaço, frutos de noites mal dormidas, podem causar?
R. Com certeza a insônia gera repercussões negativas à saúde. Ocorrem danos a curto, médio e longo prazo.
– À curto prazo = Durante o sono organizamos e consolidamos as memórias do dia anterior, também nos preparamos para as atividades do dia seguinte, tanto física como mentalmente. Noites mal dormidas geram dias com desconcentração, lapsos de memória, cansaço físico, dores de cabeça, baixo rendimento no trabalho, na escola e na vida social. Isso sem falar na sonolência diurna que coloca a pessoa em risco de acidentes de trânsito, doméstico e no trabalho.
– À médio e longo prazo = a cronificação da insônia leva a um aumento do risco de inúmeras doenças como diabetes tipo 2, hipertensão arterial, obesidade, depressão, ansiedade, entre outras. Isso ocorre por excesso de liberação de cortisol e adrenalina (hormônios do stress). Aliada à redução da liberação de leptina (hormônio da saciedade), do Gh (hormônio do crescimento). Quem dorme pouco perde importante oportunidade de reduzir o ritmo cardíaco, a pressão arterial e passar por momentos de profundo relaxamento muscular. Todo esse hipometabolismo melhora a sobrevida dos órgãos internos. Quem não descansa não repara os tecidos do corpo e sobrecarrega o organismo como um todo
– À longo prazo – toda essa cadeia patológica da insônia leva a um envelhecimento precoce e proeminente, eleva o risco de infarto e derrame cerebral. Além de, como indica alguns estudos sobre o tema, predispõe a doenças degenerativas como a doença de Alzheimer.