Por que algumas pessoas têm enxaqueca?
R. Atualmente acredita-se em predisposição genética para explicar porque algumas pessoas têm enxaqueca e outras não. Existem um risco aumentado para pessoas com histórico familiar para a doença. Agora, o fator genético não é o único, existem questões ambientais que ajudam ou dificultam essa tendência genética, tais como: ritmo de vida, questões hormonais (como pré-menstrual / gravidez/ etc), alimentação, ritmo de sono grau de stress, etc. Ou seja, entendemos a enxaqueca como associação predisposição genética (mesmo que não haja familiares acometidos) aliada à fatores (gatilhos) ambientais variados (que são variáveis caso a caso).
As mulheres são mais propensas a desenvolver o problema?
R. Sim. Mulheres em idade fértil (entre 12 e 50 anos) apresentam 3 X mais enxaqueca que os homens na mesma idade. Durante essa fase da vida cerca de 25 % das mulheres apresentam crises eventuais de enxaqueca, enquanto cerca de 8% dos homens sejam acometidos. Essa diferença não é vista antes da primeira menstruação (tendo ambos uma taxa de cerca de 6 a 8% de risco) e se atenua bastante também após a menopausa. A causa provável desse risco aumentado é a questão hormonal feminina, principalmente a oscilação do estrógeno durante o ciclo menstrual. A fase de maior risco de crises é o período que antecede a menstruação, devido a intensa queda do referido hormônio. Agora, é possível também que existam outros fatores genéticos, socioculturais e de hábitos de vida que ajudam nessa disparidade de expressão entre os sexos.
Como saber se é enxaqueca ou outro tipo de dor de cabeça?
R. A Enxaqueca é um tipo bem peculiar e característico de dor de cabeça. Caracteristicamente são crises de moderada a forte intensidade, duração prolongada (geralmente horas), característica pulsátil (latejante, apesar de cerca de 30% das vezes ser descrita como constante/peso) e predominando em um lado da cabeça (lado este que pode variar dentro da crise ou de uma crise para outra). Além disso a dor é agravada por atividades físicas (mesmo que rotineiras e pode associar-se a: náuseas e vômitos, intolerância a luz (aspecto bem característico da enxaqueca), aversão a ambientes barulhentos (fonofobia) e incômodo com odores fortes. Em cerca de 20% dos casos de enxaqueca o paciente pode sentir um sintoma neurológico transitório antes ou durante a dor de cabeça, chamado de aura. A aura mais comum é a aura visual, pontos cintilantes ou turvação visual com duração de 5 minutos a 60 minutos. Outras auras possíveis (mais raras) incluem: formigamentos, tontura / vertigem, dificuldade de comunicação, diplopia e até fraqueza de um lado do corpo.
O que desencadeia uma crise?
R. Existem vários gatilhos conhecidos para enxaqueca. Cada paciente apresenta tendência a dor a um conjunto deles, sendo essa sensibilidade bastante variável (limiar diferente). Por isso, cada um deve atentar para as situações para as quais é mais sensível. Vamos aos mais característicos:
Quanto tempo dura uma crise? O que fazer?
R. Classicamente, uma crise de enxaqueca dura entre 4 e 72 horas. Isso se não for medicada adequadamente. O recomendado é sempre seguir a recomendação de seu médico durante o início da crise de enxaqueca. Algumas recomendações gerais incluem:
Sobre os medicamentos para dor de cabeça, quais os perigos de usar sem a orientação médica?
Qualquer medicamento sem orientação médica personalizada é um tiro no escuro. Existem indicações e contraindicações até para o mais simples dos analgésicos. A enxaqueca é uma dor de cabeça bem específica e peculiar e existem medicamentos mais específicos tanto para aliviar a dor, como para preveni-la. Além disso, a automedicação traz risco de ocultar sintomas importantes para o diagnóstico diferencial (problemas que simulam a enxaqueca), assim como pode piorar a frequência das dores. Isso mesmo! O uso excessivo de analgésicos pode piorar a enxaqueca. Consideramos abusivo o uso de mais de 2 doses (tomadas) por semana. Nesse cenário a dor passa a aparecer com uma frequência cada vez maior, até chegar ao cúmulo de aparecer todos, ou quase todos, os dias em algumas pessoas. A cronificação da dor é muitas vezes fruto do abuso de analgésicos sem qualquer orientação médica especializada.
É possível prevenir a crise de enxaqueca? Como?
R. Aqui está o X da questão. O melhor tratamento é aquele que visa a prevenção das crises de enxaqueca, não apenas tratar a crise que já começou. Só assim será possível reestabelecer a qualidade de vida de casos com crises frequentes. Para as pacientes orientações um diário de dor e identificação de gatilhos. Para os gatilhos modificáveis (ou parcialmente modificáveis), obviamente é recomendado a mudança de estilo de vida (controle do sono / estresse / alimentação / etc.). Claro que existem fatores de risco não modificáveis, tais como a genética, o sexo, questões hormonais específicas, e tal. Nesses casos é fundamental estabelecer a frequência e intensidade de crises. Se o paciente apresenta crises muitos frequentes (acima de 2 X ao mês) e principalmente se são crises fortes, aconselha-se discutir uma prevenção medicamentosa.
Medicamentos preventivos são aqueles tomados diariamente (mesmo em dias sem dor) que visam reduzir a frequência de crises, melhorar a intensidade, reduzir a duração ou melhorar a resposta aos analgésicos. Existem muitas opções de profilaxia, cada uma com um perfil de eficácia e tolerância. Quase sempre são medicamentos “roubados” do tratamento de outras patologias, mas com efetividade também na enxaqueca. Existem várias classes desses medicamentos, devendo o médico estabelecer qual é a melhor tentativa caso a caso. O tratamento preventivo medicamentoso geralmente é mantido pelo período de 6 meses. A resposta varia caso a caso e muitas vezes são necessários ajustes. Após um período sem crises, essa prevenção medicamentosa pode ser descontinuada. Infelizmente ainda não existe cura para a enxaqueca (até porque trata-se de uma predisposição geneticamente determinada). O tratamento visa o melhor controle possível dos sintomas e exige muito empenho por parte do médico e do paciente. Recomenda-se, para casos mais complicados, sempre a avaliação e condução de um especialista (neurologista clínico).