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outubro 14, 2015Por que algumas pessoas têm enxaqueca?
R. Atualmente acredita-se em predisposição genética para explicar porque algumas pessoas têm enxaqueca e outras não. Existem um risco aumentado para pessoas com histórico familiar para a doença. Agora, o fator genético não é o único, existem questões ambientais que ajudam ou dificultam essa tendência genética, tais como: ritmo de vida, questões hormonais (como pré-menstrual / gravidez/ etc), alimentação, ritmo de sono grau de stress, etc. Ou seja, entendemos a enxaqueca como associação predisposição genética (mesmo que não haja familiares acometidos) aliada à fatores (gatilhos) ambientais variados (que são variáveis caso a caso).
As mulheres são mais propensas a desenvolver o problema?
R. Sim. Mulheres em idade fértil (entre 12 e 50 anos) apresentam 3 X mais enxaqueca que os homens na mesma idade. Durante essa fase da vida cerca de 25 % das mulheres apresentam crises eventuais de enxaqueca, enquanto cerca de 8% dos homens sejam acometidos. Essa diferença não é vista antes da primeira menstruação (tendo ambos uma taxa de cerca de 6 a 8% de risco) e se atenua bastante também após a menopausa. A causa provável desse risco aumentado é a questão hormonal feminina, principalmente a oscilação do estrógeno durante o ciclo menstrual. A fase de maior risco de crises é o período que antecede a menstruação, devido a intensa queda do referido hormônio. Agora, é possível também que existam outros fatores genéticos, socioculturais e de hábitos de vida que ajudam nessa disparidade de expressão entre os sexos.
Como saber se é enxaqueca ou outro tipo de dor de cabeça?
R. A Enxaqueca é um tipo bem peculiar e característico de dor de cabeça. Caracteristicamente são crises de moderada a forte intensidade, duração prolongada (geralmente horas), característica pulsátil (latejante, apesar de cerca de 30% das vezes ser descrita como constante/peso) e predominando em um lado da cabeça (lado este que pode variar dentro da crise ou de uma crise para outra). Além disso a dor é agravada por atividades físicas (mesmo que rotineiras e pode associar-se a: náuseas e vômitos, intolerância a luz (aspecto bem característico da enxaqueca), aversão a ambientes barulhentos (fonofobia) e incômodo com odores fortes. Em cerca de 20% dos casos de enxaqueca o paciente pode sentir um sintoma neurológico transitório antes ou durante a dor de cabeça, chamado de aura. A aura mais comum é a aura visual, pontos cintilantes ou turvação visual com duração de 5 minutos a 60 minutos. Outras auras possíveis (mais raras) incluem: formigamentos, tontura / vertigem, dificuldade de comunicação, diplopia e até fraqueza de um lado do corpo.
O que desencadeia uma crise?
R. Existem vários gatilhos conhecidos para enxaqueca. Cada paciente apresenta tendência a dor a um conjunto deles, sendo essa sensibilidade bastante variável (limiar diferente). Por isso, cada um deve atentar para as situações para as quais é mais sensível. Vamos aos mais característicos:
- Oscilação Hormonal: principalmente entre as mulheres em idade reprodutiva, em uso de anticoncepcional ou não (Aliás, o anticoncepcional pode piorar a enxaqueca em cerca de 30% das mulheres, apesar de melhorar em casos peculiares).
- Alteração de sono: principalmente a privação de sono, mas também o excesso de sono.
- Alimentação: Ficar muito tempo sem comer pode desencadear crises. Algumas substâncias também podem gerar crises em pessoas com essa predisposição: vinho, principalmente tinto; bebida alcoólica no geral, queijos amarelos (gordurosos ou envelhecidos), excesso de alimentos ricos em cafeína, carnes processadas, glutamato Monossódico (realce de sabor, principalmente da culinária oriental), condimentos, etc.
- Estresse: quadro de estresse psíquico crônico ou ocasional pode gerar crises de enxaqueca. Sobrecarga no trabalho, problemas de relacionamento, tensão antecipatória, problemas financeiros, etc. o aumento na secreção de cortisol e adrenalina, aliada ao aumento da contração muscular, alteração de ritmo de sono, preocupação excessiva levam a crises mais frequentes, intensas e prolongadas.
- Ambiente: ambientes muito iluminados, barulhentos ou muito quentes podem gerar dor em pessoas com enxaqueca. Ficar muitas horas próximas ao computador, sobrecargas de estímulos, exposição solar excessiva ou alterações ambientais intensas podem gerar alterações metabólicas que culminam numa crise.
Quanto tempo dura uma crise? O que fazer?
R. Classicamente, uma crise de enxaqueca dura entre 4 e 72 horas. Isso se não for medicada adequadamente. O recomendado é sempre seguir a recomendação de seu médico durante o início da crise de enxaqueca. Algumas recomendações gerais incluem:
- Buscar um local silencioso, com baixa iluminação, bom controle de temperatura e sem odores fortes. A intolerância sensorial é uma característica bastante importante em crises intensas de enxaqueca. Procure ficar mais parado e tente dormir um pouco.
- Você pode colocar algo frio comprimindo a cabeça, isso pode aliviar a dor até que o medicamento ou a medida ambiental faça efeito. Antigamente falava-se em colocar rodelas de batata na cabeça, mas isso funciona com qualquer coisa gelada.
- Tomar o medicamento conforme a sua prescrição médica logo no início da dor tipo enxaqueca. Dores iniciais respondem melhor aos medicamentos do que dores intensas, com náusea instalada e já com franca intolerância ambiental. Evitar automedicação! Evitar também o uso abusivo de analgésicos, sempre que a demanda estiver acima de 2 intervenções por semana é fundamental avisar o médico para adequar as medidas preventivas da dor (pois o excesso de analgésico pode pior a frequência de crises). Por isso é fundamental personalizar a conduta.
- Monitorize sua enxaqueca: isso é muito importante e pouca gente faz. O ideal é marcar suas dores em um diário de sintomas, com a ocorrência, a duração, o lado, a intensidade, a resposta ao medicamento, os sintomas associados, o que você fez de diferente naquele dia, etc. Esse registro é fundamental para seu médico avaliar sua evolução com dados objetivos. Assim vocês podem avaliar o melhor tratamento preventivo e os gatilhos de seu caso especificamente, para promover ajustes no ritmo de vida e no comportamento, afim de evitar a ocorrência de crises.
Sobre os medicamentos para dor de cabeça, quais os perigos de usar sem a orientação médica?
Qualquer medicamento sem orientação médica personalizada é um tiro no escuro. Existem indicações e contraindicações até para o mais simples dos analgésicos. A enxaqueca é uma dor de cabeça bem específica e peculiar e existem medicamentos mais específicos tanto para aliviar a dor, como para preveni-la. Além disso, a automedicação traz risco de ocultar sintomas importantes para o diagnóstico diferencial (problemas que simulam a enxaqueca), assim como pode piorar a frequência das dores. Isso mesmo! O uso excessivo de analgésicos pode piorar a enxaqueca. Consideramos abusivo o uso de mais de 2 doses (tomadas) por semana. Nesse cenário a dor passa a aparecer com uma frequência cada vez maior, até chegar ao cúmulo de aparecer todos, ou quase todos, os dias em algumas pessoas. A cronificação da dor é muitas vezes fruto do abuso de analgésicos sem qualquer orientação médica especializada.
É possível prevenir a crise de enxaqueca? Como?
R. Aqui está o X da questão. O melhor tratamento é aquele que visa a prevenção das crises de enxaqueca, não apenas tratar a crise que já começou. Só assim será possível reestabelecer a qualidade de vida de casos com crises frequentes. Para as pacientes orientações um diário de dor e identificação de gatilhos. Para os gatilhos modificáveis (ou parcialmente modificáveis), obviamente é recomendado a mudança de estilo de vida (controle do sono / estresse / alimentação / etc.). Claro que existem fatores de risco não modificáveis, tais como a genética, o sexo, questões hormonais específicas, e tal. Nesses casos é fundamental estabelecer a frequência e intensidade de crises. Se o paciente apresenta crises muitos frequentes (acima de 2 X ao mês) e principalmente se são crises fortes, aconselha-se discutir uma prevenção medicamentosa.
Medicamentos preventivos são aqueles tomados diariamente (mesmo em dias sem dor) que visam reduzir a frequência de crises, melhorar a intensidade, reduzir a duração ou melhorar a resposta aos analgésicos. Existem muitas opções de profilaxia, cada uma com um perfil de eficácia e tolerância. Quase sempre são medicamentos “roubados” do tratamento de outras patologias, mas com efetividade também na enxaqueca. Existem várias classes desses medicamentos, devendo o médico estabelecer qual é a melhor tentativa caso a caso. O tratamento preventivo medicamentoso geralmente é mantido pelo período de 6 meses. A resposta varia caso a caso e muitas vezes são necessários ajustes. Após um período sem crises, essa prevenção medicamentosa pode ser descontinuada. Infelizmente ainda não existe cura para a enxaqueca (até porque trata-se de uma predisposição geneticamente determinada). O tratamento visa o melhor controle possível dos sintomas e exige muito empenho por parte do médico e do paciente. Recomenda-se, para casos mais complicados, sempre a avaliação e condução de um especialista (neurologista clínico).