Hipertensão Arterial – Complicações Neurológicas
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setembro 4, 2018A Esclerose Múltipla é uma doença neurológica crônica, que acomete predominantemente jovens em idade produtiva (principalmente mulheres 2:1). É uma das principais causas de incapacidade física neurológica nessa faixa etária (perdendo apenas para traumatismos). Ela causa alterações neurológicas agudas conhecidas como surtos. O surto é um processo inflamatório que ocorre em qualquer ponto do cérebro, nervo óptico ou da medula (SISTEMA NERVOSO CENTRAL). A doença leva a uma PREDISPOSIÇÃO a esses SURTOS de inflamação no SISTEMA NERVOSO CENTRAL, que podem ocorrer a qualquer momento (trazendo muita insegurança e receio ao paciente). Com o tempo, o paciente pode acumular sequelas a depender da REGIÃO, TAMANHO e tratamento dessas lesões.
Acredita-se que existam cerca de 2,5 milhões de portadores de Esclerose múltipla no mundo e mais de 35 mil no Brasil, muito ainda sem tratamento.
A Esclerose Múltipla (EM) NÃO é uma doença degenerativa (como o Alzheimer ou a doença de Parkinson, por exemplo). Diferente disso, é uma doença inflamatória, que deve ser reconhecida e tratada prontamente a fim de minimizar o acúmulo de sequelas. A somatória de sequelas pós-surtos é que propicia o aumento progressivo da incapacidade neurológica. Por isso falamos que é uma doença do tipo surto-remissão.
Cada paciente evolui de um jeito (doença HETEROGÊNIA), existem formas mais agressivas e formas mais brandas (benignas), existem formas com resposta melhor ao tratamento e outras com respostas piores, nenhum paciente com esclerose múltipla é igual a outro.
QUAL A CAUSA DA ESCLEROSE MÚLTIPLA?
A causa exata da ESCLEROSE MULTIPLA ainda é desconhecida. Certamente existem fatores GENÉTICOS (predisposição) para a doença aliado a FATORES AMBIENTAIS (ainda pouco conhecidos). É uma doença do grupo de doenças AUTOIMUNES. As doenças autoimunes são aquelas em que o próprio sistema imunológico do paciente ataca órgãos e tecidos. A taxa de similaridade no diagnóstico entre gêmeos idênticos é de 30% (mostrando que existem fatores ambientais associados à genética). O risco de um filho de alguém com esclerose múltipla ter a doença é de cerca de 5% (acredita-se que existam diversos genes de predisposição)
O sistema imune humano é extremamente complexo e guiado a nos proteger de agressores e substâncias externas e nocivas ao nosso organismo. Por vezes ocorrem erros no processo e o sistema imunológico ataca tecidos saudáveis e provoca doenças dos mais variados tipos (por exemplo = diabetes tipo 1, vitiligo, psoríase, lúpus, tireoidite, entre outras). A esclerose Múltipla é uma doença autoimune.
O principal alvo do sistema imunológico na esclerose múltipla é uma estrutura chamada BAINHA de MIELINA (que reveste o axônio dos neurônios, como o isolamento de um fio de eletricidade), fazendo com que o impulso elétrico nervoso ganhe mais velocidade. Por isso chamamos a EM de doença DESMIELINIZANTE (há destruição focal da mielina comprometendo a condução nervosa no cérebro, medula ou nervo óptico). Nos locais aonde o SISTEMA INUME ataca existe uma lesão, uma inflamação que atrapalha o funcionamento daquela região. Após o término do ataque imunológico (do próprio organismo) fica uma cicatriz, uma “ESCLEROSE”, que ocorrem em diversos pontos do sistema nervoso e em tempos diferentes, o que confere o nome a doença de esclerose múltipla. Abaixo veja uma ressonância de encéfalo característica com as manchinhas típicas dessa doença.
COMO COMEÇA A DOENÇA?
A doença começa com um surto clínico. O paciente apresenta alguma dificuldade neurológica FOCAL relacionada a uma inflamação na medula, no cérebro ou no nervo óptico. Os sintomas dependerão do local da lesão. Dentre as alterações mais comum estão:
- Turvação em um olho: A neurite óptica é uma manifestação inicial comum (cerca de 30%). O paciente percebe perda da visão ou turvação de um dos olhos, dificuldade de percepção de cores e dor na movimentação ocular;
- Formigamento ou perda de sensibilidade em alguma parte do corpo
- Fraqueza em algum membro
- Alteração da coordenação motora
- Alteração de fala, dificuldade para engolir
- Visão dupla
O sintoma ocorre de forma aguda, evoluindo de minutos a horas geralmente, diferente de um AVC, aonde o quadro se instala instantaneamente, de um segundo para o outro. O sintoma depende diretamente do local e tamanho da lesão. Dependendo da área o surto pode passar desapercebido pelo paciente ou ter gravidade muito intensa, isso torna a doença bastante heterogênea e imprevisível.
Existem algumas formas de Esclerose Múltipla, sendo a manifestação mais comum a evolução do tipo SURTO – REMISSÃO. Nessa forma mais frequente o paciente apresenta o surto neurológico focal, com determinado sintoma e determinada lesão inflamatória. O quadro perdura por alguns dias a poucas semanas e tende a se atenuar, com ou sem tratamento. Por vezes a recuperação de surto é total, por vezes parcial. Mas, no decorrer dos anos, o acúmulo de sequelas (mesmo que parciais) dos surtos, leva a progressiva deteorização neurológica. Como podemos percebe os sintomas são muito varias em tipo e intensidade, sendo que a doenças tende a piorar em SALTOS, de surto em surto, principalmente quando a recuperação e parcial.
Por isso o tratamento deve visar reconhecer e aliviar o surto, além de tentar prevenir seu aparecimento (sendo que isso só é possível regulando o sistema imunológico).
*Qualquer SINTOMA NEUROLÓGICO FOCAL de instalação aguda pode ser sinal de ESCLEROSE MÚLTIPLA, principalmente em jovens! Não dá para esperar passar. Sempre que um evento localizado ocorrer um médico neurologista deve ser imediatamente consultado a fim de determinar a natureza do processo e iniciar rapidamente o tratamento.
Muito importante pontuar que o portador de ESCLEROSE MÚLTIPLA não sofre apenas com os surtos. a doença também apresenta sintomas mais gerais, tais como: FADIGA intensa, dores no corpo, alterações para urinar, espasmos musculares, depressão, entre outros.
O paciente ainda precisa lidar com a imprevisibilidade clínica (medo de novos eventos e dificuldade em organizar a vida), além de todo o preconceito e desinformação.
Lembrando que apenas 1 surto NÃO define a doença. É necessária a evidência de que o processo é recorrente! Seja pela recorrência clínica de SURTOS, seja pela evidencia nos EXAMES de um PROCESSO CRÔNICO e RECORRENTE.
QUE EXAMES AJUDAM NO DIAGNÓSTICO DA ESCLEROSE MÚLTIPLA?
O diagnóstico da esclerose múltipla é em grande parte clínico. Pautado em uma história clínica pormenorizada e direcionada, identificando o processo de surto e remissão. Aliada à história clínica está o exame físico e neurológico, mostrando ao neurologista os locais de disfunção neurológica e sua intensidade. Os exames mais importantes na complementação diagnóstica (selecionados caso –a caso) são:
- Ressonância Nuclear Magnética: é o melhor exame para ver a anatomia do cérebro e da medula. Ele é capaz de mostrar surtos agudos (com mais edema e captação de contraste) e surtos mais antigos (sem essas características). Mostra a distribuição, número e tamanho das lesões. É importante no diagnóstico e no seguimento, uma vez que pode mostras lesões que não deram sintomas (pelo seu tamanho ou pela localização em uma área menos silente do cérebro). Pode ser feita do encéfalo ou da medula espinhal.
- Análise do Líquido Cefalorraquidiano (Líquor): por vezes é necessário colher o “liquido da espinha” para afastar outros diagnósticos e auxiliar no diagnóstico da esclerose múltipla. No LCR dos pacientes com esclerose múltipla pode haver aumento de células e proteínas e a presença de BOC (um termo técnico que sugere doença imunológica crônica).
- Outros: EXAMES de sangue e Exames específicos como Potencial Evocado em casos selecionados
COMO É O TRATAMENTO PARA ESCLEROSE MÚLTIPLA?
O tratamento da esclerose múltipla depende de inúmeros fatores, com idade, desejo reprodutivo, fase da doença, ritmo de vida, etc. É basicamente dividido em 2 vertentes:
- Tratamento do surto agudo: para tal usamos medicamentos anti-inflamatórios potentes e em doses altas;
- Prevenção de surtos = com o paciente estável começa a fase de prevenção de surtos, para tal são usadas medicações imunomoduladores. Atualmente existem medicamentos injetáveis e via oral. Cada um com seu espectro de indicação e efeitos colaterais. São medicamentos bastante caros, mas dados pelo SUS gratuitamente.
Além do tratamento medicamentoso é fundamental o suporte multidisciplinar que será composto a depender do contexto clínico por: fisioterapeuta, fonoterapeuta, psicólogo, fisiatra, etc.
O foco é reduzir a frequência anual de surtos, além de minimizar o risco de sequelas. O reconhecimento e tratamento precoce do surto é medida fundamental.
EXISTE CURA PARA A ESCLEROSE MÚLTIPLA?
Não. É uma doença crônica. O paciente deve ser seguido de perto pela vida toda. As medicações reduzem a frequência e intensidade dos surtos, atrasando a progressão da doença, mas não garante a cura ou que um surto não irá ocorrer. Existem formas mais benignas da doença, onde os surtos são espaçados por muitos anos. Também existem pacientes que apresentam apenas um surto e nunca desenvolvem esclerose múltipla (que necessita ter recorrência para ser diagnosticada) – neste caso chamados de episódio desmielinizante isolado.
Até o momento não existe medica médica capaz de prevenir doenças autoimunes. no entanto, recomenda-se sempre uma vida saudável, com controle do estresse, controle da vitamina D, boa alimentação, etc.
PACIENTE COM ESCLEROSE MÚLTIPLA PODEM CASAR E TER FILHOS?
Sim. Podem casar, constituir família, ter filhos e netos! A doença não é transmissível e nem passada diretamente aos filhos (os filhos terão um aumento pequeno do risco de ter Esclerose Múltipla, mas a maior chance é de não terem a doença). A esclerose múltipla não gera infertilidade na mulher (determinados tratamentos medicamentosos podem gerar algum grau de infertilidade). A paciente com esclerose múltipla deve se preparar para a gravidez junto com seu neurologista de confiança. Precisa estar compensada clinicamente, com medicações que causem o menor risco ao bebê, tem de fazer um excelente pré-natal, etc. Com esses cuidados a gravidez é possível e geralmente dentro da normalidade. A amamentação também é possível, a critério do pediatra e na dependência das medicações usadas pela mãe.
Conheça 7 MENTIRAS sobre ESCLEROSE MÚLTIPLA:
1 – A doença é muito rara e acomete apenas mulheres por volta dos 40 anos. MENTIRA
A doença ocorre preferencialmente em mulheres (2:1), mas acomete também homens eventualmente. Pode iniciar em qualquer idade, até na infância, mas é mais frequente dos 20 aos 40 anos. Sendo a principal causa de incapacidade neurológica em jovens depois de traumatismos cranianos. O Brasil tem uma incidência relativamente baixa, cerca de 40 mil portadores, mas no mundo existem mais de 2.5 milhões de acometidos. Países mais ao Norte tem uma incidência bem mais alta, a doença predomina em pessoas de pela clara (caucasianos), mas pode acometer qualquer rara.
2 – A Esclerose Múltipla é uma doença neurológica degenerativa e rapidamente progressiva. MENTIRA
A doença é inflamatória e essa “inflamação” é causada por atividade anormal do sistema imunológico – AUTO-IMUNE. A evolução é variável, mas a maioria evolui com surtos e remissões, piorando lentamente e de forma variável.
3 – O termo ESCLEROSE MÚLTIPLA significa perda de lucidez e demência. MENTIRA
Apesar de muita gente confundir esse termo e ter a impressão que a doença tira a sanidade mental ou a cognição de alguém (pensando em pessoas esclerosadas), isso não é nada verídico. O termo esclerose, em medicina, significa cicatriz, sendo o múltipla uma referência ao número dessas cicatrizes. Como a doença é marcada por focos múltiplos de lesões inflamatórias no cérebro / m edula e nervo óptico, convencionou-se chamar de Esclerose múltipla. Os pacientes são inteligentes e mentalmente capazes, sendo a doença marcada por sintomas localizados de força / equilíbrio e sensibilidade geralmente.
4 – O sintoma inicial da doença é quase sempre perda progressiva de movimentos. MENTIRA
Os sintomas são muito variados, a depender totalmente do local em que o surto (inflamação) ocorreu. Um surto trará o sintoma da função da área machucada. Pode ser sensitivo, motor, visual, de fala / deglutição, etc. Geralmente é um sintoma neurológico localizado com instalação em horas a dias e evolução de algumas semanas, com melhora ou resolução espontânea.
Hoje sabemos que a esclerose múltipla traz mais sintomas que os referentes às lesões pontuais no sistema nervoso. Os portadores frequentemente apresentam sensação de fadiga, distúrbios de sono, problemas associados de depressão / ansiedade (até pela natureza imprevisível dos sintomas), desatenção, etc. O próprio contexto de ignorância e preconceito da sociedade em torno do assunto é motivo de frustração e sofrimento para os portadores, levando a um impacto na qualidade de vida.
5 – O diagnóstico é fechado com uma simples tomografia da cabeça. MENTIRA
A tomografia é um bom exame para avaliar AVC e sangramentos, principalmente na urgência. Mas, com relação à esclerose múltipla, o diagnostico é firmado pela HISTÓRIA CLÍNICA, exame neurológico e auxiliado pela Ressonância Magnética do sistema nervoso central, que pode identificar lesão recentes e mesmo antigas, demonstrando o caráter recorrente com lesões em espaços diferentes e ocorridas em tempos diferentes. A tomografia muitas vezes não enxerga lesões muito pequenas e caprichosas, características da esclerose múltipla. Da mesma forma é preciso frisar que tem alterações na ressonância em um contexto clínico não sugestivo da doença também não define o diagnóstico!
6 – A esclerose múltipla leva sempre seus portadores para a cadeira de rodas. MENTIRA
A doença tem evolução muito variável – heterogênea. Cada caso é um caso. Existem formas rapidamente progressivas e formas mais benignas, indolentes. Atualmente, com o advento do tratamento preventiva, com o reconhecimento precoce de surtos e com a identificação de formas mais brandas da doença temos visto com cada vez mais frequência casos com evolução mais satisfatória.
7 – A Esclerose Múltipla não tem tratamento efetivo, apenas fisioterapia. MENTIRA
Isso é uma grande mentira. Apesar de ainda não ter uma cura e nem medida médica preventiva, a esclerose múltipla é hoje uma patologia tratável, seja durante o surto, seja na prevenção inter-surtos. Além dos medicamentos, medidas multiprofissionais, tratamento acessórios dos sintomas associados e mudanças de estilo de vida são muito bem-vindos. A ideia é manter o paciente o mais funcional possível, mantendo o controle de sua vida e fazendo suas escolhas, pessoais, sociais e profissionais. Cada caso demandará um tipo de adaptação e ajuste, pois são paciente muito diferentes entre si, devendo o tratamento ser, da mesma forma, personalizado.