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setembro 21, 2018PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA (BELL)
A Paralisia Facial Periférica é um acontecimento clínico repentino que geralmente assusta bastante o paciente e seus familiares. Ocorre fraqueza ou até paralisia de um lado do rosto, fazendo com que o rosto fique torto, assimétrico, com uma metade alterada, congelada, mais fraca. A percepção dessa alteração leva o paciente ao médico com receio de um Acidente Vascular Cerebral (um derrame). Nessa pauta, vamos falar um pouco sobre essa patologia relativamente comum! São cerca de 80 mil novos casos ao ano, só no BRASIL.
O rosto humano possui 32 musculo de expressão facial, trata-se de uma janela de comunicação, um importante cartão de visitas e parte fundamental para nossa linguagem não verbal, traduzindo nosso emocional e nossas intenções sociais. Muito importante na autoestima e na estética de uma pessoa. Quem comanda esses músculos é o nervo facial (VII par craniano).
Qual paciente pode ter uma Paralisia Facial Periférica?
Virtualmente qualquer pessoa, mesmo sem qualquer outra patologia, pode ter paralisia facial periférica. Ocorre igualmente em homens e mulheres de qualquer idade. É rara abaixo dos 10 anos de idade. Uma população que tem risco maior são as gestantes, mulheres que acabaram de dar à luz (puerpério), e portadores de diabetes.
Trata-se da patologia de nervo mais frequente na população geral, tendo ocorrido já em alguns famosos, como Angelina Jolie, Ayrton Senna, Silvestre Stalone, Falcão (do futsal), entre outros.
Como reconhecer a Paralisia Facial Periférica?
O quadro é geralmente bem agudo (evoluindo em horas a poucos dias). O paciente acorda ou percebe, de uma hora para outra, uma assimetria no rosto (os lados estão diferentes). A fraqueza acomete toda uma metade da face, da boca até a testa. A boca entorta para o lado preservado (lado normal, por fraqueza do lado ruim), o olho do lado acometido tem dificuldade de fechar a pálpebra (ficando mais aberto), o paciente não consegue elevar a sobrancelha do lado acometido, as rugas da testa do lado alterado desaparecem.
Outros sintomas podem associar-se a essa fraqueza:
- Alteração do paladar na metade da língua do lado doente (mais sentida nos 2/3 anteriores da língua).
- Redução das lágrimas e saliva do lado acometido (dificilmente esse sintoma é percebido pelo paciente).
- Algum formigamento ou dormência nos músculos fracos pode ser notada, mas geralmente não é proeminente.
- Alguns pacientes referem dor na região atrás da orelha do lado com a paralisia.
- Outro sintoma possível é a sensação de aumento na percepção de alguns sons do lado acometido, chamamos isso de hiperacusia.
Atenção: Na Paralisia Facial Periférica clássica a fraqueza é em apenas um dos lados da face (não dos dois lados!) e não há fraqueza nos membros (isso é um sinal mais preocupante e deve ser muito bem investigado).
Qual é a causa da Paralisia Facial Periférica?
A causa da paralisia facial é a agressão do NERVO FACIAL (VII par craniana). Temos 1 nervo facial de cada lado, sendo o responsável pela contração da musculatura da face, do controle de glândulas lacrimais e salivares, do paladar nos 2/3 anteriores da língua, entre outras funções. A grande maioria das paralisias faciais periféricas agudas NÃO apresenta causa identificável. Estima-se que uma boa parte desses casos sejam gerados por reativação do vírus herpes tipo 1 (aquele que causa lesão eventual nos lábios – com vesículas). O vírus do herpes ficaria latente nos nervos por muitos anos e, eventualmente, geraria uma inflamação que causaria boa parte das paralisias faciais. Essa é uma teoria forte, mas de difícil comprovação nos casos do dia-a-dia, por isso fica sempre como a principal hipótese nos casos sem outra explicação demonstrável. Mesmo sendo uma reativação viral o paciente geralmente não apresenta febre, outros sintomas virais e, na grande maioria das vezes, não apresentam as vesículas lábias concomitantemente.
Chamamos a paralisia facial aguda sem nenhuma causa aparente de PARALISIA de BELL (em homenagem ao anatomista escocês – Charles Bell, que descreveu 3 casos em 1829, na Inglaterra).
Outras causas infecciosas podem ser pensadas em casos selecionados, tais como HIV, Herpes Zoster e Doença de Lyme; causas imunológicas, como a Miastenia Gravis e a Sarcoidose; causas vasculares, como conflito neurovascular grave e isquemia do nervo facial; causas tumorais, como metástase ou neuromas. São doenças mais raras e investigadas em casos selecionados, quando o contexto clínico é propício ao seu aparecimento, o quadro clínico é sugestivo ou a evolução é desfavorável.
Sinais de alarme na Paralisia Facial
- Paralisia Bilateral
- Outros sinais neurológicos fora da face, como fraqueza no braço, por exemplo.
- Recuperação tardia e incompleta
- Paresia apenas no andar inferior da faca (suspeita de lesão central)
- Paciente com imunidade comprometida.
Qual a diferença de um derrame (AVC) para a Paralisia Facial Periférica?
O Acidente Vascular Cerebral (AVC ou DERRAME) é uma lesão em algum ponto do cérebro causado por oclusão de algum vaso; ele pode causar uma gama enorme de sintomas, entre eles uma fraqueza na face do paciente. Geralmente essa fraqueza ocorre no andar inferior da face (1/3 inferior) e quase sempre está associado a outros sintomas fora da face. (fraqueza no braço, distúrbios da fala, alteração da sensibilidade, etc…). O paciente geralmente é mais velho e com fatores de risco para AVC.
A Paralisia Facial Periférica é uma disfunção do nervo que movimenta os músculos de metade da face. O problema não está no cérebro, e sim no nervo entre sua saída do cérebro e sua chegada nos músculos da face. O sintoma é a fraqueza ou a paralisia de TODA a face, na metade acometida, não apenas o 1/3 inferior da face, como no AVC.
A procura de um médico Neurologista é fundamental para reconhecer a paralisia facial, diferenciar sua forma Central (doença no Cérebro – AVC, por exemplo) e sua forma periférica (doença no nervo – paralisia de Bell, por exemplo) e definir a necessidade de exames complementares e tratamento.
Qual a evolução da Paralisia Facial Periférica sem causa aparente (Paralisia de Bell)?
A paralisia de Bell é de evolução benigna. A percebida de repente pelo paciente ou seus familiares, pode piorar em dias. A intensidade da fraqueza varia de paciente para paciente. Atinge o ápice clínico, fica estável em um período que dura de dias a poucas semanas e apresenta melhora progressiva após.
A grande maioria dos pacientes apresenta recuperação total ou bem satisfatória entre 6 a 10 semanas. Mesmo sem medicações. Uma pequena parcela de paciente pode ficar com sequelas (algum grau de fraqueza após término da fase de recuperação – ou mesmo paralisia total).
Qual o tratamento da Paralisia de Bell?
A Paralisia Facial geralmente tem boa evolução mesmo sem tratamento algum. No entanto, alguns trabalhos mostram alguma ação no intuito de acelerar a recuperação com uso de corticoide associado ou não com medicação Antiviral. Essas medicações são utilizadas em alguns casos, a decisão dependerá do grau da fraqueza, tempo de instalação, contexto clínico (idade da paciente, doenças de base, etc…). A decisão fica a cargo do médico que assiste o paciente.
Independente se o paciente fará uso ou não de alguma medicação por boca um cuidado extremamente importante é com o olho do lado paralisado:
A fraqueza na face gera dificuldade de oclusão do olho do lado fraco. A dificuldade em fechar as pálpebras pode gerar secura ocular e predispor o paciente a úlcera de córnea, uma complicação oftalmológica grave da paralisia facial. Para evitar tal complicação é recomendado o uso de lágrima artificial (colírio lubrificante) e ocluir o olho durante o sono (usando uma fita adesiva, por exemplo). Esses cuidados são importantes até que o paciente possa realizar essa oclusão sem nenhuma dificuldade.
Que exames devem ser solicitados?
A decisão de realizar ou não exames é do médico e depende de cada caso. Geralmente o diagnóstico é baseado na história clínica e no exame clínico e neurológico do paciente. Em uma boa parcela de casos nenhum exame precisa necessariamente ser solicitado. O paciente deve ser orientado e seguido até a recuperação. Em casos selecionados pode ser útil a Ressonância Nuclear Magnética (para estudo da anatomia do nervo), o estudo do liquor (colhido através de punção na região lombar), exames de sangue, eletroneuromiografia, etc…
O que fazer em casos com recuperação insatisfatória (seqüelas)?
Nos casos com recuperação insatisfatória é possível utilização de Botox (no lado bom), para melhorar a simetria (uma vez que o aspecto estético é a principal problema da paralisia sequelar). Há outras opções cirúrgicas como descompressão do nervo em casos graves (ainda em estudo) e microcirurgia de transposição de nervo (também medida de exceção).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Paralisia Facial Periférica é uma patologia relativamente comum de origem e evolução benigna. O susto é grande no começo, é necessário procura de um médico com experiência para diferenciá-la de um quadro central (um AVC por exemplo). O médico decidirá se há ou não necessidade de exames e se há ou não vantagem do tratamento com medicações. Cuidado especial com o olho deve ser tomado na grande maioria dos casos. O seguimento clínico é fundamental para reconhecer e intervir no caso de evolução desfavorável.