O que ocorre no corpo durante um Susto
novembro 17, 2012Recém nascido e seu sistema nervoso – O que é normal nesta fase?
novembro 17, 2012Duas pessoas comuns ficam frente a frente… uma delas, de meia idade, bem vestida, balança um objeto e dá alguns comandos com uma voz sussurrante e … pronto !! Daqui em diante o outro come cebola achando que é maçã, masca alho pensando ser chiclete, imita galinha, fica mudo e até deixa que lhe atravessem agulhas no pescoço. Essa é uma visão bem popular do misterioso evento da hipnose. Crença, magia, teatro ou ciência? Qual será a visão imparcial de um médico neurologista perante tudo isso. Perguntamos ao Dr. Leandro Teles, neurologista formado pela Universidade de São Paulo a visão dele sobre alguns aspectos centrais do processo de hipnose (lembrando que ele não pratica o procedimento, portanto não há conflito de interesse).
1- Você acredita em hipnose ou acha que é tudo teatro?
R. A hipnose é um fenômeno real e quantificável . É possível sim, em alguns momentos, pessoas propensas a hipnose apresentarem percepção sensorial e vivencias alternativas motivadas pela sugestão de um hipnotizador. Obviamente, como em qualquer outra profissão de franca exposição, existem alguns profissionais enganadores em meio a profissionais sérios. Mas a hipnose, como processo cerebral, é cientificamente estudado, provada e com diversas aplicações médicas e não médicas.
2- Durante a hipnose a pessoa imagina as coisas ou ela realmente sente o que é proposto ?
R. Essa é uma dúvida milenar. Os estudos mais recentes relacionados a investigação das áreas cerebrais ativadas durante a hipnose mostram que, em alguns casos, ocorre ativação de regiões da percepção e não da criação. Isso sugere que o processo lembre mais alucinações perceptivas do que imaginação.
3- É possível usar a hipnose para acessar melhor as memórias?
R. A maioria dos estudos mostra que sim. Pessoas em transe hipnótico tem um acesso mais amplo e detalhado a algumas recordações episódicas. Isso inclusive já foi usado em depoimentos policiais pela tentar esclarecer a cena do crime hipnotizando as testemunhas. O problema é que a indução por sugestão por vezes traz uma versão pouco confiável, aonde o que a pessoa “acha que viu” ou “queria ter visto” e traz durante o transe a informação como se realmente tivesse vivenciado, por isso que evita-se atualmente esse método e questiona-se sua validade como prova.
4- Existe risco de plantar “falsas memórias” durante uma hipnose mal feita?
R. Sim, esse risco existe e é preocupante. Em momentos de transe com atividade de “regressão temporal” a condução inadequada pode levar falsas interpretações do passado e deixá-las com aquela sensação de familiaridade típica das lembranças. É um mecanismo complexo que separa a nossa interpretação do que é lembrança e do que imaginamos, durante uma hipnose mal conduzida uma vivencia imaginativa (na medida em que não ocorreu) pode ser “plantada” como uma vivencia real. Nem preciso dizer a quantidades de problema que uma falsa memória pode trazer.
5- Você acredita em regressão para vidas passadas pela hipnose?
R. A existência de vidas passadas é uma questão de cunho religioso e não cabe a mim julgar sua existência. Agora, do ponto de vista estritamente científico o acesso a esse tipo de recordação não é até o momento comprovado. A nossa capacidade de recordação episódica consciente toma corpo a partir de 4 anos de idade, podemos até fixar relances de memória antes desse ponto, mas sem recordação clara e estruturada. Como a questão de vidas passadas é praticamente impossível de ser testada (uma vez que a distinção entre sugestão e vivência fica, neste caso, impossível) a prática ganha sempre muitos adeptos. Mas definitivamente é muito mais uma questão de fé do que de ciência.
6- Qualquer um pode ser hipnotizado ?
R. Não, existem pessoas mais e menos hipnotizáveis. Além disso as pessoas precisam “querer”, de alguma forma (mesmo que não conscientemente), ser hipnotizadas. Outro mito é achar que as pessoas ficam completamente na mão do hipnotizador, que cometeriam crimes ou fariam qualquer coisa no estado de transe. Na verdade, a crítica continua agindo em algum grau e geralmente interrompe o processo quando o hipnotizador transgride os princípios éticos e morais do hipnotizado. Ainda sobre o poder do hipnotizador sob a pessoa em transe, muitos temem que o paciente fique preso no transe caso o hipnotizador passe mal, fuja ou mesmo morra durante o processo. Isso realmente não acontece, se o estímulo cessar, após algum tempo (geralmente minutos), o paciente evolui para sono e acorda espontaneamente fora do transe.
7- Quais as utilidades atuais da hipnose?
R. No ramo médico a hipnose se aplica no tratamento de dores crônicas, abuso de álcool e drogas, anestesias leves, ansiedade, depressão e mesmo outros transtornos psiquiátricos. Seu uso é geralmente associado a condutas médicas tradicionais. Outra utilidade está na indução de eventos psíquicos que podem eventualmente ser confundidos com quadro de epilepsia (servindo neste caso como diagnóstico). Fora do cenário médico, a hipnose é utilizada como entretenimento (em shows), atividades religiosas (como regressão para vidas passadas) e até em atividades com animais de todo o tipo. Seja como for, é altamente recomendável que se procure profissionais com habilidade, éticos e cuidadosos. Também é recomendável que todo e qualquer procedimento dessa natureza seja realizado apenas com o consentimento da pessoa hipnotizada.