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Apesar de uma doença ainda pouco conhecida pelo público leigo, a esclerose múltipla é uma das principais patologias neurológicas que se tem conhecimento. Acredita-se que existam mais de 2,5 milhões de portadores no mundo, muitos sem diagnóstico e sem tratamento adequados.
Nosso papo começa pelo nome da doença, que arrepia logo de início: ESCLEROSE MÚLTIPLA! Dá a impressão de uma doença com vários “tipos” de “ESCLEROSES”, passando a imagem de algo degenerativo, progressivo, inexorável e com sintomas intelectuais (já que muita gente associa com “pessoas esclerosadas”, um termo antigo e em desuso). Nada disso!
Trata-se de uma doença inflamatória, aonde ocorrem eventuais pontos de inflamação no cérebro, na medula espinhal ou nos nervos da visão. Acomete predominantemente jovens previamente saudáveis, principalmente do sexo feminino. A doença é causada por um erro do SISTEMA IMUNOLÓGICO, que passa a ATACAR inadvertidamente a CAPA que reveste o prolongamento dos NEURÓNIOS, a principal célula do cérebro e da medula. Imagine como se o neurônio tivesse um prolongamento semelhante a um fio elétrico, na ESCLEROSE MULTIPLA ocorre agressão da CAPA desse FIO (chamada MIELINA), atrapalhando sua função.
A doença é considerada crônica pois o paciente apresenta uma tendência a ter SURTOS de inflamação, ilhas de lesão em pontos variados do cérebro e medula. Os sintomas irão depender da localização da inflamação e do tamanho. Por exemplo, se ocorrer lesão inflamatória em região de sensibilidade, irá surgir uma perda sensitiva ou formigamento em determinada região do corpo. Se for em um local responsável pela movimentação, ocorrerá uma fraqueza focal, se a inflamação ocorre no nervo da visão, haverá uma turvação em um dos olhos, e assim por diante. O sintoma da ESCLEROSE MÚLTIPLA é a ocorrência de alteração neurológica localizada, agudas (minutos a horas) e persistentes (mais de 24 horas).
Por isso, é fundamental AVALIAR qualquer SINTOMA NEUROLÓGICO localizado, mesmo que de fraca intensidade ou que ele desapareça em alguns dias (pois surtos leves frequentemente passam batidos e atrasam o diagnóstico).
Sintomas INICIAIS COMUNS da ESCLEROSE MULTIPLA:
- Turvação de um dos olhos com dor à movimentação (neurite);
- Fraqueza localizada em um lado do corpo ou um membro;
- Alteração de sensibilidade em um lado do corpo, da face ou mesmo de um membro;
- Alteração de fala / deglutição;
- Visão dupla.
É infrequente o acometimento intelectual, por isso a ideia de “esclerosado” não tem nada a ver! Os portadores são inteligentes, mentalmente sadios e muito capazes, estando limitados eventualmente por aspectos motores e sensitivos que são adaptáveis e variam muito de um caso a outro. A falta de informação acaba causando muito PRECONCEITO e leva a sofrimento adicional aos portadores de esclerose múltipla.
Bom, já aprendemos bastante! Mas vamos continuar. Cada paciente evolui de um jeito, existem casos mais graves e agressivos e existem casos mais brandos e benignos. Por isso, o mito de que todos os pacientes evoluem com incapacidade de forma universal, inequívoca, rápida é completamente errado. A incapacidade é fruto da somatória das sequelas que podem ocorrer após vários surtos (e o espaçamento entre um surto e outro pode variar muito de um paciente para outro). Mas a sequela não é uma regra, surtos mais levem podem evoluir bem, principalmente quando tratados rápida e adequadamente.
Aí outro aspecto importante: existe tratamento para ESCLEROSE MULTÍPLA, tanto para reduzir a inflamação durante um SURTO, como para minimizar o risco de SURTOS. Não existe cura para a doença ainda, mais o tratamento tem evoluído muito nos últimos 10 anos. A maioria dos medicamentos são caros, mas fornecidos gratuitamente pelo SUS. Casos mais avançados e com mais limitações exigem uma abordagem multidisciplinar e personalizada às dificuldades do paciente, podendo incluir: fisioterapeutas, psicólogos, fonoaudiologistas, fisiatras, etc.
O diagnóstico é feito pelo NEUROLOGISTA CLÍNICO, sendo pautado pela história de surtos e sintomas neurológicas, pelo exame físico compatível e por exames complementares, sendo um dos mais importantes a RESSONANCIA MAGNÉTICA (que mostras os pontinhos inflamados novos e antigos e sua localização). Outros exames importantes caso a caso são: exames do líquor (líquido da espinha / coluna), exames de sangue, entre outros.
Conviver com a ESCLEREOSE MULTIPLA não é nada fácil, uma doença de evolução imprevisível, que acomete pessoas no auge da sua vida produtiva, responsiva apenas parcialmente aos medicamentos, de sintomatologia neurológica variada e potencial causa de incapacidade física. Como se não bastasse, o tratamento também pode trazer efeitos colaterais, incômodos e modificar intensamente a vida do portador e seus familiares. Agora, pensar nessa mesma BATALHA em um mundo de DESINFORMAÇÃO, IGNORÂNCIA E PRECONCEITO é ainda pior. Sem oportunidade e acolhimento ao portador, a sociedade consegue ser pior que a doença.
Fico feliz em ver a patologia abordada em Rede Nacional e horário nobre (apesar de questionar um ou outro aspecto técnico envolvido na sintomatologia do personagem em questão). Considero uma interessante “janela de oportunidade” para falamos e pensamos em Esclerose Múltipla. Um PROTAGONISMO necessário e mais do que merecido!