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setembro 19, 2018Você conhece a FIBROMIALGIA? Trata-se de uma doença muito frequente e envolta ainda por muito mistério e preconceito. Estima-se que cerca de 3 a 5 % da população brasileira sofra de Fibromialgia, sendo de 6 a 8 vezes mais comum entre as mulheres que entre homens. Estima-se que existam mais de 8 milhões de portadores no Brasil, sendo uma das principais doenças musculoesqueléticas / reumatológicas, perdendo apenas para a artrose em número de pacientes. A idade da apresentação dos sintomas é entre 35 e 55 anos, mas existem variação, podendo ocorrer em qualquer idade.
QUADRO CLÍNICO
Trata-se de uma doença crônica, arrastada, com sintomas abrangentes e por vezes muito incapacitantes. A despeito de não levar à morte e nem a deformidades, os sintomas trazem muito impacto na qualidade de vida do paciente. A marca da doença é a presença de dores, generalizadas, persistentes e espontâneas. A dor é sentida nos músculos, tendões, ligamentos e articulações, não associada a pancada e nem a inflamação local. São dores frequentes, praticamente diárias e sem localização específica, se manifestando em ambos os lados do corpo e acima e abaixo da cintura, acometendo também a cabeça e a coluna.
Para o diagnóstico a dor precisa ter essas características: generalizada, sem causa identificável e crônica. Utiliza-se o critério de 3 meses de duração para estabelecer que o quadro é crônico, mas muitos pacientes chegam ao médico com história muito mais longa de sintomas.
Além do quadro de dor espontânea, intensa e difusa, os portadores de fibromialgia também sofrem com uma gama grande de outros sintomas associados, tornando hoje a fibromialgia uma doença multissistêmica, que altera o organismo como um todo. Além da dor o portador tem um risco maior de depressão, ansiedade, sintomas de fadiga crônica, distúrbios intestinais, queixas de memória e concentração, distúrbios sexuais, distúrbios de sono, sensação de formigamentos e sensação de inchaço, entre outros.
PRINCIPAIS SINTOMAS ADICIONAIS
1- Fadiga: muito frequente a queixa de fadiga, tanto física como mental. Os pacientes com fibromialgia apresentam uma intensa falta de disposição, cansaço rápido e baixa energia. Esse sintoma é por vezes mais incapacitante que a própria dor espontânea, que é a marca da doença. Com a fadiga descompensada, o paciente sente muita frustração e tem muita dificuldade em se engajar em atividades profissionais, escolares e sociais, apresentando muita perda de qualidade de vida.
2- Depressão: acredita-se que por volta de 50% dos portadores de fibromialgia apresente quadros de depressão. A depressão é marcada por tristeza desproporcional e persistente, perda de prazer em atividades que antes davam prazer (anedonia), desesperança, baixa autoestima, pessimismo, além de sintomas físicos variados. Por muito tempo ficou a dúvida se a fibromialgia não era um quadro depressivo marcado por dores no corpo, mas recentemente acredita-se que sejam doenças diferentes, frequentemente associadas. A presença de depressão piora o quadro da fibromialgia e vice-versa.
Além da depressão clássica os portadores de fibromialgia podem apresentar distimia, quadros de ansiedade, com fobias, pânico e TAG, entre outros diagnósticos neuropsiquiátricos.
3- Distúrbio de Sono: portadores de fibromialgia com frequência têm queixas com relação ao sono. Apresentam a sensação subjetiva de sono não reparador, queixas de insônia, pernas inquietas e por vezes apneia do sono. O sono é causa e efeito dos sintomas na fibromialgia. Por um lado, as dores pioram o inicio do sono, por outro a falta de sono profundo pioram a fadiga e a sensação de dores crônicas. A regularização do sono traz melhora dos sintomas da fibromialgia.
4- Distúrbios Intestinais: muito frequente a queixa de episódios de diarreia e obstipação intestinal na fibromialgia. São também bastante frequentes as queixas de cólicas abdominais e sensações de digestão ruim. Alguns preenchem critérios para a síndrome do intestino irritável.
5 – Queixas Cognitivas: os pacientes podem se queixar de esquecimentos e desatenção. A fibromialgia pode dar uma sensação de pensamento mais lento e dificuldades de criatividade. Essas queixas podem ser decorrentes da própria fibromialgia, associada ao baixo rendimento do sono, depressão, medicamentos e contexto hormonal.
6- Sensação de Formigamento e Inchaço: a despeito de não haver problemas nos nervos e não ocorrer inflamação muscular e inchaço, os pacientes podem referir queimações, sensação de pinicações e formigamentos, principalmente nos pés e mãos. A sensação de inchaço e edema também é comum.
DIAGNÓSTICO
A fibromialgia não aprece nos exames! Apesar de sentida de forma intensa e feroz pelos portadores, não existem exames de sangue ou de imagem capazes de identifica-la com 100% de certeza. O diagnóstico é totalmente clínico, baseada no conhecimento, experiencia e expertise do médico, que pode ser um clínico, um reumatologista, um fisiatra ou mesmo um neurologista de confiança. O diagnóstico é pautado em critérios que envolvem a presença de sintomas, a duração, o impacto na qualidade de vida, o exame físico e a investigação eventual de possíveis diagnósticos diferenciais.
Os exames de Rx, ressonância magnética, ultrassom e os exames de sangue, mesmo com pesquisa de inflamações e doenças reumatológicas podem ser completamente normais na fibromialgia. Claro que muitas vezes os exames mais sofisticados movidos para a linha ortopédica apresenta alterações inerentes ao próprio envelhecimento, por isso falamos que na fibromialgia o quadro clínico de dor é desproporcional a essas alterações inespecíficas.
De qualquer forma os pacientes com sintomas de fibromialgia passam geralmente por uma investigação geral para outras causas para seus sintomas, como doenças reumatológicas, ortopédicas e hormonais, fazendo-a figurar quase como um diagnóstico de exclusão. Agora, a falta de achados precisa culminar no diagnóstico clínico, e não na falta de um diagnóstico certeiro e na falta de uma abordagem.
Existe ainda muito preconceito com relação aos portadores de fibromialgia, tanto por parte da sociedade, como por parte dos profissionais da saúde e do próprio paciente, como se a ausência de perturbações palpáveis ou demonstráveis em exames de imagem tornassem a doença um transtorno menor ou fruto da mente do paciente, que estaria inventando ou amplificando sua percepção, em busca de atenção.
A fibromialgia é uma doença real, orgânica e avassaladora, descrita em diversas culturas e com relatos ao longo dos últimos 500 anos da história da medicina. Metade de seus portadores não apresentam transtornos psiquiátricos, tais como a depressão, mostrando que a natureza do processo provavelmente não é psicológica.
Além da história clínica, o exame físico pode demonstrar uma sensibilidade aumentada em alguns pontos do corpo, chamados de TENDER POINTS. Esses pontos podem mostrar sensibilidade aumentada a pressão da mão do examinador, são descritos 18 pontos, sendo 9 de cada lado. Apesar de não participarem dos critérios diagnósticos atuais, a sensibilidade em 11 ou mais deles favorecem fortemente o diagnóstico.
CAUSAS
A causa da fibromialgia não é completamente conhecida. Acredita-se que existam fatores genéticos, aliados a fatores de personalidade, fatores hormonais e fatores ambientais ainda não plenamente conhecidos.
Sabe-se que na fibromialgia o cérebro apresenta uma grande vulnerabilidade à dor, possivelmente por mal funcionamento das vias de percepção e modificação das percepções dolorosas. Acredita-se que o cérebro e a medula espinhal percebam eventos periféricos corriqueiros e não ameaçadores de lesão estrutural, como uma experiência negativa e dolorosa.
Muitos especialistas atribuem essa vulnerabilidade à dor por um mal funcionamento em vias de alguns neurotransmissores como a serotonina e a noradrenalina, que figuram nos principais alvos para o tratamento farmacológico atualmente.
TRATAMENTO
O tratamento deve ser o mais abrangente e personalizado possível.
Muito importante definir rapidamente o diagnóstico e investir no tratamento medicamentoso e principalmente não medicamentoso do transtorno. Cada caso é um caso e exigirá um grupo específico de intervenções, uma vez que o transtorno é heterogêneo.
Intervenções não medicamentosas: é fundamental estabelecer um bom controle de peso e ritmo de sono. Evitar excesso de estresse e atividades extenuantes. Na medida do possível é importante estabelecer uma rotina saudável, sem vícios, com atividade física de intensidade e qualidade adequada. Recomenda-se atividades de fortalecimento e alongamento, sempre aliada ao componente aeróbico, capaz de auxiliar no controle muscular, de peso, de humor e de sono. Psicoterapia pode ser bastante útil em alguns casos, controlando a ansiedade e a depressão, atividades como YOGA e terapia cognitivo comportamental pode auxiliar alguns pacientes. Alguns pacientes se sentem muito bem com acupuntura, no auxilio do controle da dor.
Intervenções medicamentosos: alguns sintomas da fibromialgia podem se beneficiar de medicamentos, tais como controla da dor, do intestino, do sono e dos possíveis sintomas depressivos e ansiosos. Alguns medicamentos podem ser indicados para atenuar fases de maior intensidade de sintomas, gerando mais qualidade de vida, mesmo que não curem a patologia. Algumas vezes o médico opta por uma associação de medicamentos reguladores da atividade do sistema nervoso central, auxiliando no gerenciamento das dores espontâneas e dos sintomas acessórios.