O sono das crianças
julho 23, 2013Autismo
agosto 2, 2013Quando falamos em estresse falamos de um conjunto de ajustes físicos e mentais necessários para otimizarmos nossa performance corporal e cerebral em momentos mais complicados da vida. Parece algo bom, certo? Certo. O problema não é o estresse em si, mas a frequência e a intensidade em que acionamos esse sistema alternativo de funcionamento. Quando ficamos estressados geramos uma cascata de alterações metabólicas onde priorizamos a resolução de determinado problema, com efeito adverso abdicamos de uma série de questões não prioritárias naquele momento.
O estresse agudo leva a um aumento da pressão arterial e frequência cardíaca, com isso, o sangue circula mais rápido e os músculos conseguem desenvolver uma performance melhor. As pupilas se dilatam, vemos o todo, com baixa percepção de detalhes e nitidez. O cérebro fica a flor da pele, reduz o limiar de decisão, o foco no problema distorce a percepção do que não está em jogo naquele momento. Ficamos menos sensíveis às mudanças ambientais e mesmo a sinais do nosso corpo (sentimos menos dor, vontade de ir ao banheiro, etc.). Existe uma grande liberação de adrenalina e cortisol no sangue. É um sistema que nasceu para ser acionado apenas de vez em quando.
Fica fácil de perceber que o estresse não é um evento sustentável. Na sua forma reacional, intermitente e infrequente ele é saudável. Mais que isso, ele é o colorido da vida, o tempero que permite engolimos nossa insossa existência. Um toque de vermelho no fundo sem graça da rotina e do tédio em que nos enfiamos às vezes.
Agora, na sua forma crônica, intensa ou muito frequente, ele vira um veneno. O estresse arrastado e desmedido lesa o corpo e mina as relações interpessoais. Derruba a imunidade, piora completamente o perfil cardiovascular (agravando o diabetes, a hipertensão, o colesterol alto), descontrola o peso (para mais ou para menos), altera nossa função gastrointestinal, atrapalha o sono, o humor e a performance sexual.
Do ponto de vista neurológico, viver mergulhado no estresse, significa perder os detalhes, dar respostas aceleradas e imperfeitas às perguntas que a vida nos impõe. Estressados percebemos menos o outro, não enxergamos alternativas sutis, somos inábeis e nada criativos. Ficamos mais irritados, impacientes, viver estressado é derrubar o saleiro na salada, cobrir de vermelho uma paisagem que deveria se rica em detalhes e sutileza. O cérebro estressado não dá conta de um rendimento refinado, diferenciado e em alta padrão. A raciocínio fica mais reflexo, ocorre erros de julgamento e a tomada de decisão fica comprometida, uma vez que prioriza-se os resultados a curto prazo, uma espécie de controle de danos.
Como vimos, quem define o risco do estresse é a dose, o tempo e o contexto. Por isso vale muito a pena observar o seu dia-a-dia e investir bastante em atividade física, atividade de lazer, medidas de relaxamento, repouso, etc. Você colherá os frutos tanto na saúde física como no rendimento cerebral a curto, médio e longo prazos.
Texto – Neurologista Leandro Teles – Membro da Academia Brasileira de Neurologia (ABN)