Nem tudo que treme é Parkinson
novembro 13, 2012Como agir diante de uma convulsão?
novembro 13, 2012Com o progressivo envelhecimento da população estão cada vez mais frequentes as queixas de distúrbios de memória. Mais do que isso, o próprio ritmo frenético de vida aliado ao bombardeio de informações gera disfunções que simulam a dificuldade de memória propriamente dita em pacientes cada vez mais jovens.
É fato! Está cada vez mais difícil encontrar pessoas acima dos 40 anos sem queixa de lapsos de memória. A primeira distinção importante a ser feita é entre declínio da memoria por uma doença subjacente (Alzheimer, por exemplo) e alterações benignas do processo de retenção / recordação, geralmente frutos de dificuldade no processo de atenção (causado, a exemplo, por depressão, ansiedade, distúrbios do sono, stress, entre outros). Portanto, a distinção inicial é entre dificuldade real de memória (mais preocupante) e dificuldade de atenção (menos preocupante).
Uma avaliação neurológica pormenorizada é geralmente capaz de diferenciar as duas situações acima sem muita dificuldade (principalmente com uso de testes específicos de atenção e memória).
Quem está desatento acaba não memorizando. Veja um exemplo: quando entramos no Shopping (com presa para variar) a fim de escolher um presente para um amigo. Entramos na loja, compramos o presente e, na hora de ir embora: cadê o carro? Pronto, estamos com Alzheimer… na verdade ao estacionar o carro nossa mente estava focada em outro problema (o atraso, o presente do amigo, o trabalho, etc.) O local de estacionamento não foi memorizado, pois, a atenção não deu relevância para a informação. Isso ocorre com todo mundo vez ou outra, em algumas fases da vida a exacerbação desse processo pode simular doenças de memoria.
Os distúrbios reais do processo de memoria são geralmente secundários a doenças degenerativas (doença de Alzheimer, por exemplo) relacionadas à idade mais avançada (acima de 60 anos). A senilidade (envelhecimento normal) é geralmente acompanhada por um leve declínio da capacidade de memorizar as coisas do dia–a–dia. Esse declínio natural geralmente não compromete as atividades diárias do paciente, não acomete outras funções intelectuais, não alterando o grau de independência do paciente.
Se esse processo mostra-se mais intenso um Neurologista deve ser imediatamente consultado. Não é aceitável atualmente, com os avanços das técnicas diagnósticas e terapêuticas o atraso na busca de ajuda. É comum o atraso do diagnóstico causado por um conceito perigoso de atribuir à idade do paciente um sintoma decorrente de uma doença subjacente. “Pra idade dele, ele está até bem….”, é uma frase comum, mesmo que aja inúmeras pessoas com a mesma idade em melhores condições intelectuais. Temos que ter cuidados para não menosprezar os sintomas e privarmos nosso familiar de diagnostico e tratamentos precoces.
10 Sinais de alarme relacionados à perda de memória:
1) Frequência alta de esquecimentos.
2) Esquecimento de coisas importantes como: pagar contas, fogão acesso, trancar a casa, etc.
3) Mudar de ambiente e esquecer o que foi fazer no outro ambiente.
4) Medo dos familiares de deixar o paciente sozinho (perda da confiabilidade e da independência).
5) Outras dificuldades associadas (dificuldade de fazer contas, dificuldade em gerir as próprias finanças, dificuldade em compreender programas de televisão, etc.… )
6) Paciente repetitivo, perguntando sempre as mesmas coisas, mesmo que já tenha sido adequadamente respondidas.
7) Recordação recorrente de fatos do passado, fora de contexto.
8) Paciente que se perde com facilidade em locais conhecidos.
9) Períodos de confusão mental quando contrai alguma infecção
10) Troca recorrente de nomes e membros da família.
Esses sintomas não fazem diagnóstico, mas são indicativos da necessidade de avaliação especializada.
Aprendendo sobre a doença de Alzheimer.
1) O que é a doença de Alzheimer?
É uma doença crônica e degenerativa que leva a um quadro demencial. Demência é a perda ou redução de capacidades intelectuais previamente desenvolvidas. A memória é com muita frequência acometida. É importante que haja intensidade suficiente para comprometer as atividades cotidianas ou profissionais do paciente.
É uma doença de início lento, mas progressivo. Ocorre morte de neurônios relacionados ao processo intelectual. Essa morte é decorrente de acúmulo de substâncias no interior da célula. A causa desse acúmulo é desconhecida, mas está associado a predisposição genética e ao envelhecimento celular (podendo ser acelerada por processos ambientais). Ocorre progressiva atrofia de algumas regiões cerebral e redução do metabolismo dessas regiões.
2- Como e feito o diagnóstico da doença de Alzheimer
O diagnóstico é feito pelo médico Neurologista, com base na história clínica do paciente, do exame neurológico (principalmente com os testes cognitivos onde avalia-se a atenção, memória, capacidade viso-espacial, linguagem, etc.…) e eventualmente algum exame complementar.
Não existe um exame complementar que comprove se o paciente tem ou não doença de Alzheimer (por isso dizemos que o diagnóstico é clínico). No entanto, alguns exames podem ser usados para afastar doenças que simulam o Alzheimer e que podem ter um tratamento e evolução completamente diferente ou demonstrar sinais sugestivos de Alzheimer, quando há algum componente clínico atípico).
3) Que doenças podem simular a doença de Alzheimer?
O Alzheimer é a causa mais comum de involução cognitiva. No entanto, algumas doenças podem simular seus sintomas ou mesmo associar-se ao Alzheimer ,neste caso tornando o processo mais exuberante ou a evolução mais rápida, seguem alguns exemplos: Quadros Depressivos graves, chamados de pseudo-demência, uma demência “falsa”. Nestes casos o tratamento da depressão pode melhorar o score cognitivo. Por vezes os quadros depressivos são negligenciados no paciente idoso.
- Múltiplos pequenos derrames (AVC´s): É muito comum com o avançar da idade, surgirem inúmeras áreas pequenas de isquemia cerebral. Isso ocorre com mais frequência em diabéticos, tabagistas, obesos e hipertensão sem o controle clínico adequado, mais ocorre em proporção menor em praticamente todas as pessoas. A intensidade desse processo pode gerar sintomas demenciais, chamamos de demência vascular. Essa causa pode estar isolada ou associada à doença de Alzheimer. A Tomografia de Crânio e principalmente a Ressonância Nuclear Magnética de crânio podem visualizar esse processo.
- Funcionamento inadequado da tireóide: O hipotireoidismo não reconhecido e tratado pode gerar disfunções intelectuais que simulem o Alzheimer. O diagnóstico é feito por exames de sangue e o tratamento é a reposição do hormônio.
- Carência de vitamina B12: A carência de vitamina B12 é relativamente comum nos idosos. Pode causas anemia, doença nos nervos periféricos, na coluna e até mesmo quadro de demência. O diagnóstico é a dosagem no sangue e o tratamento é a reposição.
Inúmeras outras doenças potencialmente reversíveis podem causar sintomas intelectuais: hidrocefalia, sangramentos subdurais, infecção por HIV ou sífilis, tumores frontais, etc.…
Daí a importância de uma avaliação pormenorizada para afastar clinicamente ou mesmo com exames, em casos selecionados, outras causas de demência que não a doença de Alzheimer. Procure um neurologista de confiança.
4) Que exames são feitos para ajudar no diagnostico da doença de Alzheimer.
Como exposto acima alguns exames devem ser realizados, a fim de afastar diagnósticos diferenciais que são escolhidos caso a caso. Alguns outros podem ser direcionados para o Alzheimer. Por exemplo:
- Tomografia de Crânio e Ressonância Magnética: Pode visualizar alterações morfológicas como a atrofia de determinadas porções do cérebro e usadas em casos selecionados.
- SPECT e PET cerebral: Exames sofisticados que avaliarão a perfusão e o metabolismo cerebral. Podem mostrar a redução funcional das regiões acometidas no Alzheimer. Sendo usado em casos selecionados.
- Líquor com Dosagem de Determinadas Proteínas: O acúmulo de determinadas proteínas pode elucidar casos mais difíceis. (usado em casos selecionados)
5) Existe cura para o mal de Alzheimer?
Não. Até o momento não existe cura. O tratamento medicamentoso visa a melhora dos sintomas e lentificação do processo evolutivo. A meta é que o paciente desfrute o maior tempo possível de uma vida com qualidade, melhorando o aspecto intelectual e comportamental. Por isso é necessário o diagnóstico precoce e um seguimento com seu médico de confiança. A escolha das medicações é peculiar a cada caso clínico e alterações de substâncias e doses são frequentemente necessárias na evolução da doença. Também são utilizadas medidas não farmacológicas: calendários, agenda, ajustes ambientais, entre outros de modo a manter a independência do paciente com segurança.
6) Como me prevenir do mal de Alzheimer?
Não é uma pergunta fácil de responder. Uma vida saudável, com boa alimentação, longe do tabagismo, bom controle de peso, marcadores de colesterol controlados, atividade física regular, entre outros, provavelmente reduzirá o risco de processos danosos ao seu sistema nervoso central (por exemplo, micro AVC´s citados acima), o tornando mais resistente ao processo misto (vascular + degenerativo).
Muitos trabalhos associam o alto grau educacional a um menor risco de evolução para doença de Alzheimer. Faz sentido pensar que o uso adequado do cérebro o proteja um pouco da involução provocada pela doença. Portanto; estude muito, trabalhe com a mente, leia bastante, faça cálculos de cabeça, viaje, aprenda outras línguas, técnicas diferentes de fazer a mesma coisa, ou seja, exercite seus neurônios a toda e qualquer hora!
Uma vez diante de sintomas cognitivos; procure seu médico! Não espere as coisas piorarem. Se o diagnóstico bater a porta, não desanime, o processo é extremamente lento e há uma gama enorme de terapias que podem te ajudar.