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novembro 13, 2012Praticamente todo mundo mais cedo ou mais tarde experimenta crises de dor de cabeça. Para algumas pessoas essa é uma realidade frequente causando muito sofrimento. Crises frequentes geram perda de dias de trabalho, baixa de rendimento escolar, irritabilidade, dificuldades na relação interpessoal, distúrbio do sono, comprometendo como um todo a vida profissional e social do paciente. O uso equivocado e indiscriminado de medicações analgésicas por muitas vezes atrasam o diagnóstico e consequentemente o tratamento adequado.
Grande parte das dores de cabeça que experimentamos no dia a dia são de origem benigna. Ou seja, não são fruto de patologias graves subjacentes. São ditas “cefaléias primárias”. Nesse grupo as duas principais entidades são ENXAQUECA (ou migrânea) e CEFALÉIA TENSIONAL.
No outro polo estão as dores de cabeça secundárias a patalogias subjacentes. São as ditas “cefaléias secundárias” (são menos frequentes que as cefaléias primárias). As causas são inúmeras, desde problemas agudos como sangramentos, infecções (sinusite, meningite, dengue etc…), trauma, trombose venosa, medicamentos, etc…. Até problemas crônicos como disfunção de ATM (articulação têmporo mandibular), distúrbios do sono, depressão, etc….
Então, a primeira distinção a ser feita é entre dor de cabeça PRIMÁRIA (aonde a própria dor de cabeça é a doença a ser tratada- enxaqueca, por exemplo) e Dor de Cabeça SECUNDÁRIA (aonde existe uma causa e ser descoberta e tratada especificamente).
Por isso é fundamental um neurologista de confiança. Determinar o tipo e possivelmente a causa da dor de cabeça é o primeiro passo para um tratamento correto. A medicação analgésica comum (essa que se compra sem receita pelas farmácias) não faz a distinção, alivia os sintomas transitoriamente podendo complicar cefaléias PRIMÁRIAS e atrasar o diagnóstico das SECUNDÁRIAS.
Vamos falar um pouco das Cefaléias mais comuns – ENXAQUECA e CEFALÉIA TENSIONAL.
ENXAQUECA
A enxaqueca pode acometer pacientes de qualquer idade e ambos os sexos. No entanto é bem mais comum entre a adolescência e a quinta década de vida e em mulheres. As crises surgem geralmente após a primeira menstruação e persistem com períodos de melhora e piora até a menopausa.
A dor é geralmente de intensidade moderada a forte. A localização da dor é geralmente unilateral (esquerda ou direita), sendo que geralmente o paciente tem um lado preferencial para a ocorrência da dor (no entanto ela varia eventualmente e acontece em outra região).
A característica da dor é geralmente pulsátil (como se o coração estivesse batendo dentro da cabeça). Outros sintomas podem associar-se a dor, tais como:
Fotofobia = A luz incomoda o paciente, que busca locais com baixa iluminação para alívio dos sintomas
Fonofobia = O barulho incomoda o paciente, que busca locais silenciosos.
Odinofobia = Alguns paciente referem sensibilidade aumentada a odores fortes durante as crises de enxaqueca.
O paciente geralmente apresenta náuseas e eventualmente vômitos. A dor da enxaqueca classicamente piora com atividade cotidiana, por isso o paciente tem importante baixa do rendimento no trabalho durante as crises. Busca geralmente ficar parado ou mesmo em repouso durante as crises. As crises tendem a melhorar após um período de sono.
Algumas pessoas apresentam outros sintomas. A duração da crise (sem utilização de medicações) é de 4 à 72 horas, geralmente. A frequência de crises é muito variável. Tem paciente que tem inúmeras crises no mês e outros que ficam meses sem ter crises.
FATORES DESENCADEANTES
Paciente com enxaqueca podem ter suas crises pioradas no período menstrual, fases de Stress, redução de sono, consumo de determinados alimentos (que podem variar caso a caso), uso de algumas medicações (anticoncepcionais, por exemplo), consumo de álcool, etc…
Cada paciente tem seus desencadeantes de dor, que devem ser evitar na medida do possível. Medidas restritivas generalizadas não são utilizadas, as restrições devem ser individualizadas caso a caso.
DIÁRIO DE DOR
O diário de dor é uma ferramenta fundamental para o seguimento do paciente com dores de cabeça.
Nele o paciente marca os dias em que teve dor, a intensidade da dor, a duração da dor, a lateralidade, o caráter da dor, os fatores de melhora e piora. Além do ciclo menstrual no caso das mulheres.
O diário permite guiar o tratamento com objetivos claros de redução de frequência e intensidade das crises. Sem o mapeamento da dor é muito difícil o seguimento neurológico adequado dos pacientes com enxaqueca.
TRATAMENTO DA ENXAQUECA
O Tratamento da enxaqueca passa por medidas comportamentais e medicamentosas.
O paciente deve levar uma vida regular, evitando desencadeantes (individuais), praticando atividade física, evitando períodos de jejum ou privação de sono prolongados e minimizando o stress (esse quesito é geralmente o mais complicado de resolver).
Com relação a medicamentos existem duas questões importantes:
1- Medicação para “cortar” a crise = a escolha da melhor medicação para abortar a crise de dor (uma vez que o paciente já esteja com dor) depende de uma série de fatores, como o contexto clínico, a questão econômica, outras doenças do paciente, via de administração, etc… Existem inúmeras possibilidades, a melhor escolha deve ser escolhida pelo neurologista após avaliação do perfil do paciente. É possível crias esquemas terapêuticos variados para crises mais fraca e mais forte, ou mesmo uma progressão de medicações no caso da primeira medicação não surtir o efeito desejado.
Muitas vezes associam-se medicações para controle das náuseas e vômitos, até mesmo para melhorar a absorção das medicações analgésicas.
2-Medicação para prevenir as crises = sem sombra de dúvida a medicação profilática é o tratamento mais importante para quem tem crises frequentes de dor (geralmente é indicada para quem tem acima de 2 crises por mês ou crises infreqüentes mas muito incapacitantes).
As medicações preventivas devem ser usadas todos os dias, independente se o paciente tenha ou não dor. O remédio não corta e dor, a sim evita que ela apareça. A avaliação da eficácia depende do bom preenchimento do diário de dor. A meta é a redução da freqüência e/ou da intensidade das crises.
Existem inúmeras opções de medicação profilática. Geralmente medicações usadas primariamente para outras doenças.
Por exemplo: Antiepilépticos (Topiramato, Ácido Valpróico, Lamotrigina) ; Antidepressivos e Antiansiedade (Amitriptilina, Fluoxetina, Sertralina, etc…); Antihipertensivo e Antiarrítmico (Propranolol, Verapamil, etc…), Antivertiginosos (como a Flunarizina), entre outros.
É muito comum o paciente sentir insegurança no uso dessas medicações após ler a bula e identificar suas outras indicações. No entanto todas estas possuem ação em enxaqueca independente da suas indicações para outras doença. Seu Neurologista de confiança está apto a escolher no rol a que melhor se encaixa com o seu caso clínico, podendo mudá-la se não houver sucesso. Por vezes o jeito de tomar o remédio e a dose é bem diferente se a indicação é enxaqueca ou as outras doenças citadas acima. O importante é tomar as medicações prescrição da maneira mais precisa e seguir o preenchimento do diário de dor.
A escolha depende de uma série de fatores e deve ser feita após avaliação especializada de um Neurologista. Algumas melhoram o sono, reduzem a ansiedade, controlam a depressão, outras melhoram a pressão arterial, umas emagrecem (bom para paciente acima do peso), outras ajudam a ganhar peso (as mulheres não gostam muito dessas…), enfim… a escolha é feita caso a caso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A enxaqueca é uma doença muito importante pelo impacto que causa na qualidade de vida dos pacientes. A cura é improvável, mas o controle é geralmente alcançado com o seguimento neurológico adequado. Os passos para o controle passam por uma avaliação inicial, mapeamento da dor, decisão do planejamento a curto e médio prazo. As medidas comportamentais devem aliar-se às medidas medicamentosas em casos selecionados.
A conduta deve ser personalizada e os resultados avaliados de maneira objetiva. Portanto, mãos à obra.
CEFALÉIA TENSIONAL
A cefaléia tensional é o tipo mais comum de dor de cabeça que existe. Virtualmente todo mundo teve, tem ou terá períodos de cefaléia tensional durante a vida. A dor classicamente é em peso ou aperto, freqüentemente é bilateral ou sentida na cabeça toda. A duração é variável, podendo durar de 30 minutos até 7 dias consecutivos. As crises geralmente são de intensidade fraca a moderada, é aquela dor chata que incomodo mas raramente leva o paciente ao hospital. As pessoas geralmente se automedicam com remédios vendidos sem receita médica.
Diferentemente da enxaqueca a cefaléia tensional não é acompanhada de náuseas, no entanto às vezes as pessoas perdem a fome quando estão com esse tipo de dor. A luz pode incomodar assim como o barulho, mas raramente isso ocorre na intensidade que ocorre com a enxaqueca. É uma dor mais suportável e não agravada pela atividade cotidiana, sendo raramente incapacitante o suficiente para impedir o trabalho, mas causa bastante sofrimento dada a sua freqüência e duração.
Pacientes com crises intensas, freqüentes ou muito duradouras devem procurar o quanto antes seguimento neurológico. Após identificação do tipo de dor e afastamento de doenças subjacente (cefaléia secundária), o paciente deve iniciar o mapeamento da dor com o diário de dor (exposto acima).
FATORES PREDISPONENTES
A cefaléia tensional acomete homens e mulheres de qualquer idade, sendo mais freqüente em mulheres entre 15 e 60 anos. As crises pioram em períodos de sobrecarga de trabalho, stress de qualquer espécie, má alimentação, abuso de álcool, privação de sono, período perimenstrual, etc…
TRATAMENTO DA CEFALÉIA TENSIONAL
O tratamento de cefaléia tensional passa por uma avaliação neurológica e deve ser personalizado ao perfil de cada paciente. Existem medidas medicamentosas e não medicamentosas. É importante mudar a dinâmica de vida, dormir adequadamente, praticar atividade física e minimizar o stress diário. Medidas não farmacológicas que podem aliviar os sintomas são técnicas de relaxamento, acupuntura, etc… As medicações possuem dois mecanismos de ação diferentes:
1- Alívio imediato dos sintomas = medicações que cortam a dor e/ou relaxam a musculatura envolvida.
2- Medicações que rompem o ciclo de dor e as comorbidades associadas = reservadas para os pacientes com crises mais freqüentes. São utilizadas diariamente independente da presença ou não da dor naquele momento e visam evitar o início dos sintomas. Elas reduzem a ansiedade e sintomas depressivos além de ajudar a regularizar o sono quando esse é um fator importante. Existem várias possibilidades terapêuticas. A escolhe deve ser feita pelo médico Neurologista e personalizada ao perfil clínico do paciente, suas doenças associadas, seu perfil econômico, etc….
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cefaléia tensional é afecção extremamente comum e normalmente negligenciada. O tratamento adequado aliado ao seguimento neurológico regular melhora a qualidade de vida do paciente, reduzem o gasto em medicações analgésicas e melhora o rendimento social e no trabalho. Cabe a cada um dar o primeiro passo.